terça-feira, 20 de dezembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A opção errada

No dia em que afirmou, sem conhecer a proposta de Orçamento de Estado do PSD-PP, que a probabilidade de votar contra era próxima de zero, António José Seguro perdeu uma boa oportunidade para estar calado. Não há memória de um OE mais violento e iníquo do que este,  ao qual o líder do PS se amarrou infantilmente por antecipação. 

O PS devia estar contra o OE porque é uma proposta economicamente recessiva, mais penalizadora para as classes médias e classes baixas, que discrimina negativamente funcionários públicos e pensionistas, que desinveste no ensino, na saúde e na protecção social. O que a economia precisa é de estímulo para crescer, gerar emprego e receita fiscal. Se há cortes a fazer, que sejam aplicados de forma progressiva e socialmente justa. Se estamos presos ao Memorando, renegoceiem-se os termos do empréstimo. Tal como está, o OE não serve sequer o propósito de reduzir o défice porque cria uma espiral recessiva. O PS devia ainda estar contra o OE porque é preciso dar esperança à esmagadora maioria de portugueses que não se revêem neste ataque sem precedentes às famílias e à viabilidade funcional do Estado. As pessoas que olham chocadas e incrédulas para o fundamentalismo neo-liberal do governo PSD-PP e que poderiam encontrar no PS o seu porto de abrigo vão continuar à deriva. Por uma e por outra razão, em termos políticos, a abstenção é um erro de palmatória.

A abstenção tanto na generalidade como na especialidade representa uma capitulação e um "nim" dificilmente explicável. A oposição responsável e construtiva não significa pactuar por omissão com um cenário de empobrecimento do país baseado em preconceitos ideológicos e interesses particulares. Seria mais legítimo e mais fácil dizer não ao OE, propondo alternativas e condicionando uma alteração do voto em função da sua adopção. Evidentemente, o apoio parlamentar ao governo torna a negociação uma questão de boa vontade de PSD e PP. Mas o PS teria marcado uma posição e definido uma alternativa. O "nim", visto do lado dos que mais sofrem com este OE, não serve para nada. Nem sequer para sonhar com um futuro diferente. 

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Reedições

Confirma-se que a relação de poder na Europa continua dominada pela dupla de coveiros Merkel/Sarkozy. O futuro do Euro e da UE não está nas mãos dos gregos, como alguns optimistas chegaram a vislumbrar. O nosso futuro está nas mãos dos eleitores franceses e alemães que devem decidir se partilham a visão dos seus líderes de que a fada da confiança nos vai salvar a todos da catástrofe. Eventualmente, o futuro passará por uma reedição do Plano Marshall, venha o dinheiro de onde vier. A questão é saber se, antes de reeditarmos a solução implementada em 1948, reeditamos o problema de 1933.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A desumanização do debate

Um dos sinais da crise que vivemos é que se fala muito na Grécia, mas pouco nos gregos. É um sinal que ultrapassa os problemas financeiros e económicos, para indicar um problema político e social. E, se quisermos, também um problema ético. A escolha de uma terminologia abstracta, mesmo que irreflectida, traduz uma desumanização do debate e das questões. Logo, também uma desumanização das soluções. Só assim se compreende que pessoas de bem estejam dispostas a impor ou aceitar a miséria económica e social de milhões de famílias. Algures neste percurso,  a Europa perdeu de vista a relevância dos seus cidadãos. Mas, no final, a política e a economia não são nada se não estiverem ao serviço do interesse das pessoas. Um modelo económico e um conjunto de opções políticas que apenas têm empobrecimento para oferecer, não têm realmente nada para oferecer.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

See ya real soon

Até meados da próxima semana, prevê-se que o blogue continue a marinar.

Adenda: Entretanto, não deixem de inteirar-se sobre um inovador conto do vigário.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Viva Espanha

A ETA anunciou o fim da violência. Uma boa notícia para os espanhóis. Uma boa notícia para todos.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os anos 30

O constitucionalista Gomes Canotilho advoga que os tempos que vivemos justificam excepções ao respeito pela Constituição. Jacques Delors, que vem do tempo em que a Europa ainda tinha políticos com visão, avisa que "O clima não é bom e lembra os anos 1930. Nacionalismo exacerbado, populismo agressivo, o medo da globalização, tudo isso põe em causa o contrato de casamento europeu”. Em tempos de crise profunda, é praticamente possível ouvir de tudo. A diferença, nestes casos, é que enquanto uns estão dispostos a rasgar princípios e garantias, em troco não se sabe bem de quê, outros alertam para os perigoso caminho que a Europa percorre. 

 Os políticos europeus continuam a enfiar a cabeça na areia enquanto os sinais de deterioração do regime democrático são evidentes. É natural e legítimo que uma sociedade queira rever o seu enquadramento legal, mesmo ao mais alto nível, embora seja de esperar que um texto constitucional mereça alguma perenidade. O que já parece estranho é que se possa admitir e aceitar que os poderes políticos possam violar a legalidade vigente, o que representa o fim do Estado de Direito. De resto, toda a gente sabe o que aconteceu à Europa nos anos 30.

O que dizem as estatísticas?

Nuno Melo diz que 80% dos pensionistas ficam fora dos cortes nos subsídios de Natal e de férias. Para ele, é uma prova da consciência social do governo. Mas para quem realmente se preocupe com a situação sócio-económica dos pensionistas, é sinal de que 80% dos pensionistas portugueses recebem menos de 500 euros de pensão. Este valor coloca a esmagadora maioria dos pensionistas portugueses muito perto ou já para lá do limiar de pobreza. É uma pena que o CDS não esteja na oposição, ou não perderia a oportunidade de atacar este sinal claro da fragilidade económica dos reformados.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pormenores

Há muitas formas de apresentar um número. O Diário Económico preferiu chamar a atenção para os 20.000 euros que Cavaco vai deixar de receber em 2012. É um montante de respeito. Sobretudo se pensarmos que sempre que Cavaco fala em “sacrifícios” e “fim das ilusões” nos seus discursos está a falar refastelado no conforto de um rendimento mensal de 10.000 euros. Isto num país com um salário médio em torno dos 800 euros. 

O segundo aspecto a reter, embora o DE prefira não o abordar, é que o corte proporcional nos rendimentos de Cavaco é igual ao corte que afectará qualquer funcionário público: sensivelmente 15%. A diferença é que após o corte do subsídio de Natal e de férias, um funcionário público com 1000 euros de salário fica com 12.000 euros anuais para comer, vestir-se, pagar o carro e a casa. Cavaco ficará com um rendimento anual de 120.000 euros. E, como todos sabemos, a vivenda da Aldeia da Coelha foi uma permuta e não pesa nas despesas familiares. Um pormenor ao qual o DE decidiu não atribuir importância.

Duas ideias consensuais

96% dos portugueses dizem que a situação económica do país está mal e 71% acreditam que vai piorar.

domingo, 16 de outubro de 2011

François Holland

O candidato do PS francês às presidenciais é François Holland. Se ganhar, substituirá um dos principais responsáveis pela crise do projecto europeu nos últimos três anos. 

A caminho da utopia neo-liberal

Falando perante autarcas do PSD, Passos Coelho justificou a pilhagem dos subsídios de Natal e de férias dos funcionários públicos afirmando que "cortar nos salários do privado não resolveria o problema orçamental do país, já que não é o Estado que paga estes salários". A verdade é que o défice reduz-se cortando na despesa ou aumentando as receitas. O Estado não paga salários do sector privado, mas pode aumentar a receita, como acontecerá quando ficar com o equivalente a 50% do subsídio de Natal deste ano dos trabalhadores do sector privado e do sector público. Não deixa de ser extraordinário perceber a indigência argumentativa e a desonestidade intelectual do primeiro-ministro. Passos só pode julgar que os portugueses são parvos e que não conseguem fazer contas de somar.

Se quisermos procurar as verdadeiras razões de Passos Coelho, talvez seja melhor começar por ler uma notícia do Expresso, sobre a qual Estrela Serrano já disse o que há para dizer, em que um membro do governo admite a discriminação contra o funcionalismo público em função de critérios eleitorais: "a função pública não é a base eleitoral deste governo". Temos um governo que despreza o Estado e os seus funcionários e que se encontra apostado numa blitzkrieg para liquidar o máximo que puder no mais curto intervalo de tempo possível. O objectivo desta gente não é salvar o que quer que seja; é destruir o Estado e transformar o país numa utopia neo-liberal. E os portugueses são as cobaias desses amanhãs de Estado mínimo e selvajaria máxima.

sábado, 15 de outubro de 2011

Alternativas

Dizem que não há alternativa às medidas anunciadas pelo governo para o próximo Orçamento de Estado. É falso.

O governo podia ter optado por uma nova sobretaxa sobre todos os rendimentos, de forma a não ser preciso roubar dois salários aos funcionários públicos.

O governo podia ter optado por introduzir taxas progressivas, não penalizando da mesma forma quem ganha mil euros e quem ganha cinco vezes esse valor.

O governo podia ter optado por taxar os lucros das empresas bastante abaixo do limite de 10 milhões de euros anunciado.

O governo podia ter optado por aplicar a essas empresas uma taxa superior aos 5% anunciados, já que o subsídio de Natal e de férias representam um corte superior a 14% para os funcionários públicos.

O governo podia ter optado por taxar as grandes fortunas e a propriedade não produtiva.

O governo podia ter optado por taxar as segundas residências (e as terceiras e quartas, etc.) em vez de ter reduzido as isenções no IMI e agravado a taxa de forma geral.

O governo podia ter optado por distribuir o peso da consolidação orçamental de forma socialmente justa.

Optou por não o fazer. Mas não digam que não havia alternativas.

Uma escolha ideológica

O acréscimo de meia hora de trabalho no sector privado não aumenta a produtividade. Como a produtividade é um quociente, o resultado de mais horas de trabalho pode ser mais riqueza, mas nunca mais produtividade. Isto é matemática do ensino básico. Há muita gente que ou não domina o conceito de produtividade ou não domina o raciocínio matemático inerente a uma fracção e é aflitivo que algumas dessas pessoas estejam no actual governo.

Quando se determina que os trabalhadores passarão a trabalhar mais pelo mesmo salário, o que se verifica é uma redução do custo do trabalho. Basicamente, em termos de custos, é o mesmo que aplicar um corte salarial. Admitindo que os outros factores se mantêm estáveis, a redução do custo do trabalho permite ter um custo final do produto mais baixo. Mas se os produtos continuarem a ser vendidos ao mesmo preço, o resultado é o aumento da margem de lucro. Traduzindo, enquanto o trabalhador está, de facto, a ganhar menos pelo que produz, a gestão fica com indicadores financeiros mais interessantes, pelos quais será recompensada, e os accionistas ficam com mais lucros, a partir dos quais distribuirão dividendos. Fica assim completo o ciclo de transferência da riqueza gerada pelo sacrifício de muitos para benefício de alguns.

O défice poderia nem ser do PSD, embora em boa parte seja (Madeira, BPN, crise política para forçar eleições), mas as opções para o combater, como Passos Coelho reconheceu, são. O governo escolheu atacar a classe média, os pensionistas e os funcionários públicos. Foi uma escolha consciente e que nasce de um alinhamento ideológico que beneficia os que têm mais em detrimento dos que lutam para sobreviver dignamente.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Tiro de partida

Passos Coelho provou ontem que entre os seus defeitos como político contam-se a hipocrisia e a absoluta falta de soluções para recuperar a economia e qualidade de vida do país. Mas mostrou também que não é louco. A confirmarem-se as contas do Diário Económico, 80% do buraco orçamental é compensado com salários do sector público. Dito de outra forma, estes 80% são compensados com o sacrifício de 5% de trabalhadores portugueses. O princípio em que assenta esta opção é o antiquíssimo dividir para reinar. Como os custos recaem essencialmente sobre o funcionalismo público, a massa de trabalhadores do privado respira de alívio por não ser com eles. O acréscimo de duas horas e meia por semana de trabalho para o privado faz rir muito boa gente que dá bastante mais do que isso sem nunca ter recebido um cêntimo de compensação. Dia 15 de Outubro há manifestações e faz toda a diferença não ter a maioria dos trabalhadores por conta de outrem em estado de choque. 

O PSD e o PP não só estão a riscar tudo o que disseram em campanha, agravando os impostos para quem trabalha e fazendo recair sobre este sector, de forma desproporcional, o ónus do défice. Enquanto as grandes fortunas, os negócios monopolistas e os lucros astronómicos se mantêm intocados, o governo avança com uma pilhagem dos subsídios de férias e de Natal acima de 1000 euros, uma medida socialmente injusta e regressiva. Da mesma forma que as taxas de IRS aumentam numa razão proporcional ao vencimento do sujeito passivo, também uma taxa extraordinária sobre os subsídios de Natal e de férias deveria manter esse princípio para ser socialmente justa. 

O governo assume a sua incompetência e impreparação ao aumentar, mais uma vez, a carga fiscal e ao não apresentar uma única ideia para dinamizar o crescimento económico. A estratégia para gerir o descontentamento passa pela aposta na atomização dos indivíduos e na criação de divisões sociais, colocando o sector privado contra o sector público, o patronato contra os trabalhadores e os contribuintes líquidos contra os beneficiários. Desiluda-se quem pensar que, não fazendo parte da corte de privilegiados e protegidos, está a salvo da sangria. O exemplo vem de cima. A ganância encarregar-se-á do resto.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Um programa social

Em Inglaterra, devido aos cortes nos apoios sociais, prevê-se que o número de crianças em situação de pobreza possa aumentar em mais meio milhão até 2015. Mas isso é secundário. Para David Cameron, o importante é criar filtros que limitem o acesso a conteúdos sexuais na internet. O relatório em que o primeiro-ministro inglês se apoia, e com cuja abordagem diz concordar, propõe outras medidas de fundo como acabar com a venda de roupa “inapropriadamente sexy” para crianças, incluindo T-shirts com slogans demasiado sugestivos. 

Isto poderia ser apenas um caso rocambolesco, mas, na realidade, é sintomático da hipocrisia conservadora. Ao mesmo tempo que defende a liberdade e autoridade das famílias para escolherem as escolas e a educação dos seus filhos, promove um moralismo legislativo ridículo nos usos e costumes. E enquanto diz defender a família e os seus valores, deixa cair na pobreza absoluta 500.000 crianças. Pobrezinhos, mas puros de espírito – eis o programa social dos conservadores ingleses.

Contorcionismos

Entretida a celebrar a vitória eleitoral de domingo, uma caravana do PSD, onde pontuava um recém-eleito deputado, parou às portas do Diário de Notícias da Madeira, berrou ameaças e insultos e lançou very lights para as instalações. Em locais decentes, o senhor deputado nunca tomaria posse e este caso seria investigado até às últimas consequências. Na Madeira, é capaz de ser apenas mais uma das anormalidades típicas da região. 

No continente, os media encolhem-se e a classe política assobia para o lado. Julgo que seja redundante explicar porque é que a impunidade deste tipo de acções não é apenas vergonhosa, mas um sinal da podridão dos espíritos e um precedente perigoso. A canalha, quando toma o freio nos dentes, sente-se entusiasmada para repetir e superar-se na barbárie. 

É apenas um pormenor, mas a memória é uma forma de responsabilização social e política: há seis meses, havia gente que não se calava com a “verdade” e com a “asfixia democrática”, espumava de indignação contra processos movidos contra jornalistas e jurava a pés juntos que existia um plano para controlar a comunicação social. Entretanto, desapareceram nos gabinetes de assessores dos ministérios, nos grupos de trabalho e nos think tanks, onde não deve haver acesso à internet. Sobre a Madeira, nem um pio. O contorcionismo vertebral é sempre uma coisa muito estranha de se ver.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pirómanos

Numa altura em que a Europa atravessa uma grave crise económica, o primeiro-ministro inglês vai aproveitando para avançar com uma agenda xenófoba e securitária. Nada de bom pode nascer desta mistura explosiva.

Diferenças de fundo

Luís Novaes Tito, em poucas palavras, explica porque é que a ideia que Francisco Assis lançou nas eleições para secretário-geral do PS não é comparável ao que o PS francês está a fazer nas primárias para as eleições presidenciais. 

Tiro ao lado

Para o presidente da Toyota Portugal, o problema económico português reside nos sindicatos. Termos um tecido empresarial dominado por micro-empresas, mão-de-obra e gestão desqualificadas, que continua a apostar nos salários baixos como estratégia competitiva e que, salvo raras e honrosas excepções, não inova e não exporta, trata-se de uma mera coincidência. O problema está nos sindicatos, os quais, como é consensualmente reconhecido, até têm vindo a perder dimensão e capacidade negocial. Ou estamos perante um cínico inveterado ou estamos perante um gestor que precisa urgentemente de começar a acompanhar a realidade social e económica do século XXI.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A decadência da arte no mundo ocidental

«Notação é uma arte, não uma ciência», admite Standard&Poor's

Esta é a justificação que a S&P encontra para ter atribuído notação AAA aos produtos financeiros que arruinaram o sector financeiro e a economia mundial. Recorrendo a uma comparação desportiva, existe uma certa diferença entre falhar um golo acertando no poste e falhar um golo acertando no simpático sexagenário, sentado no terceiro anel, que não se conseguiu desviar a tempo.

Contra

Depois de Francisco Assis, é agora a vez de Teixeira dos Santos pedir a viabilização pelo PS de um Orçamento que ninguém conhece. Como o governo tem o apoio da maioria parlamentar formada por PSD e PP, a viabilização está assegurada. A questão, na prática, nem sequer se coloca.

Se o Orçamento for mau, cortando agressivamente na saúde e na educação, colocando em causa a eficácia e eficiência do Estado, transferindo desproporcionalmente para os agregados familiares o co-pagamento dos serviços públicos e inviabilizando a recuperação económica e a criação de emprego qualificado, o PS não deve ter receio de afastar-se claramente destas políticas. 

A austeridade orçamental da direita europeia é injusta e contraproducente. Votar contra um Orçamento nestes moldes não é tirar "dividendos políticos", é marcar uma posição e traçar uma linha de rumo para o futuro que dê alguma esperança a todos os que têm sido prejudicados pelo fanatismo ideológico, pela incompetência e pelo amadorismo.

O "especialista"

A Fundação Francisco Manuel dos Santos tem em curso um projecto de publicação de livros temáticos a baixo preço. António Barreto encarregou-se, oportunamente, de expor o manifesto de intenções: pluralidade de temas, de autores e de abordagens, ensaios curtos e apelativos e preços baixos para alargar a base de potenciais leitores. 

Depois de sermos ofertados com uma pluralidade de autores e abordagens que, por exemplo, na economia vai desde Luciano Amaral a Vítor Bento, somos agora surpreendidos com um ensaio da autoria de José Manuel Fernandes sobre (pausa para respirar fundo) Liberdade e Informação. O percurso profissional de JMF fala por si. Enquanto foi director do Público, o jornal perdeu leitores, perdeu qualidade e perdeu carácter. JMF foi responsável por uma tentativa de assassinato lento do melhor jornal português no final da década de 90, em nome de um projecto ideológico de combate político e doutrinação social. O ponto alto da carreira é a Inventona de Belém, um conjunto sórdido de primeiras páginas repletas de mentiras, calúnias e dissimulação para deliberadamente prejudicar um partido político em vésperas de eleições. 

Foi este extremista político, invertebrado moral e incompetente profissional que a FFMS chamou para partilhar as suas reflexões sobre Liberdade e Informação. Só não dá para rir porque os indivíduos que conspiram activamente contra as instituições democráticas são demasiado perigosos para que nos possamos dar a esse luxo. É uma escolha que diz muito sobre as intenções e a seriedade do projecto da FFMS.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

iGnorância

Não sei exactamente a que é que o Lourenço Cordeiro chama PC. Há quem utilize o termo PC para máquinas que operam com sistema Windows da Microsoft, mas em rigor um Mac é um personal computer como outro qualquer, com sistema operativo da Apple. Posso estar enganado, mas parece-me que o texto do Lourenço Cordeiro diminui a importância de Steve Jobs e da Apple em detrimento de Bill Gates e da Microsoft. Gostos não se discutem, mas importa esclarecer dois aspectos importantes. 

Primeiro, embora tenha sido a divisão de pesquisa da Xerox a inventar a interface gráfica e tenha sido a Microsoft a dominar o mercado nas décadas seguintes, foi Steve Jobs que uniu os pontos e comercializou o primeiro PC integrando essa tecnologia. Depois deixou a Apple, fundou a NeXT e a Pixar, esta última responsável pelo primeiro filme integralmente em CGI (Toy Story), voltou à Apple, lançou o iPod, o iPhone, o iTunes e o iPad. O iPhone revolucionou a comunicação, a produtividade e o entretenimento móvel e o iTunes provou que o negócio da música digital pode ser muito lucrativo. Quanto ao iPad, muito provavelmente é mais parecido com o PC do futuro do que o objecto em que estou a escrever estas linhas - que, por acaso, é um MacBook. 

Em segundo lugar, muito em função do que escrevi no parágrafo anterior, reduzir a importância dada a Steve Jobs a uma questiúncula sobre quotas de mercado com a Microsoft é passar ao lado do mais importante. O que impressiona no trabalho de Jobs, mais do que os produtos, é a capacidade de lançar conceitos. Por este motivo, as empresas tecnológicas do momento são a Apple e a Google. Se o futuro passa pela mobilidade e por aparelhos como os smartphones e os tablets, nesse campo o domínio destas duas empresas é avassalador. A Microsoft, com toda a importância que teve e ainda tem, precisa hoje de um intenso processo de reinvenção, à semelhança do que um dia já aconteceu à Apple. O negócio do Windows para PC continua fora de alcance para a concorrência, mas o futuro parece caminhar noutra direcção.

One in a million

O maior legado de Steve Jobs não será o que inventou nos últimos 30 anos, mas a inspiração para o que poderemos criar nos próximos 100.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Jornalismo: modo de não fazer

A americana Amanda Knox, acusada e condenada por assassinato em Itália, ouviu há dois dias a sentença do recurso que interpôs e que a declarou inocente. Vários meios de comunicação confundiram o veredicto e avançaram nas suas edições online o resultado contrário. Mas apenas o Daily Mail conseguiu o prodígio de fantasiar toda uma historieta em torno dos acontecimentos, com detalhes sumarentos que, infelizmente para o jornal britânico, apenas aconteceram na cabeça do jornalista que os escreveu. O Daily Mail corrigiu rapidamente o tiro, mas o blogue 233Grados tem um resumo do que apareceu escrito

Este é apenas mais um exemplo de tudo o que está mal no jornalismo actual. Privilegiam-se a rapidez sobre a exactidão (provavelmente, neste caso, com textos já preparados antes do veredicto) e os detalhes anedóticos sobre a explicação dos acontecimentos. Um serviço de informação elaborado nestes termos não possui qualquer valor para os leitores e, em rigor, nem sequer pode ser chamado jornalismo.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O galinheiro da saúde

O ministro da Saúde, pessoa com fortes ligações a um grupo privado de prestação de serviços de saúde, avisa que um serviço de saúde sustentável significa “uma menor despesa com convencionados, um custo de medicamentos em ambulatório menor, um número e custo de horas extraordinárias também menor e um menor número de despesas com prevenção”. Menos horas extraordinárias, como explica candidamente a coordenadora do Agrupamento de Centros de Saúde de Alvalade, Benfica, Lumiar e Sete Rios, significa que “As pessoas vão ter que perceber que os centros de saúde não podem ser usados com a mesma facilidade que anteriormente”. Dito de outra forma, como a notícia explica, menos horas extraordinárias traduzem-se em horários reduzidos de atendimento. Com o amadorismo a que já nos vamos habituando, ninguém explica como é que isto se articula com as necessidades financeiras e operacionais de tirar gente das urgências hospitalares. Entretanto, os media resolvem dar tempo de antena à presidente da empresa de saúde do grupo Espírito Santo, que defende que “Tem de haver fecho de hospitais e concentrações de serviços hospitalares, nomeadamente nos grandes centros urbanos”. É impressão minha ou chamaram as raposas para definirem como deve ser reformulado o galinheiro?

domingo, 2 de outubro de 2011

Anormalidade


Nas campanhas eleitorais na Madeira, o normal é a anormalidade. Uma síntese quase perfeita do reinado de Alberto João Jardim. Se alguém souber o que dizem sobre isto os indivíduos que não se calavam com a "asfixia democrática", faça favor de partilhar.

sábado, 1 de outubro de 2011

A herança


Apesar de Passos Coelho ter prometido não usar a governação anterior como desculpa, a cada nova má notícia na imprensa o PSD desdobra-se em críticas à herança socialista. É apenas mais uma promessa não cumprida – e esta nem é das mais graves. Quando foram conhecidas as contas do primeiro trimestre de 2011, os números revelavam uma evolução razoavelmente positiva. Se o défice derrapou entretanto, alguma explicação deve existir. Os acontecimentos marcantes da transição do primeiro para o segundo trimestre deste ano foram o chumbo do chamado PEC IV e a subsequente queda do governo de Sócrates. Nas duas encontramos a impressão digital do passismo, notabilizada na célebre tirada de Marco António: “Ou há já eleições para primeiro-ministro, ou, o mais provável, é termos eleições para a presidência do PSD”. Se as contas estão más, o PSD tem a agradecer a si mesmo a herança que recebeu.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Gravíssimo

Sentir-me-ia muito mais solidário com a "gravíssima crise económica e financeira" que atravessam as farmácias portuguesas se o agora demissionário presidente da ANF divulgasse o número de estabelecimentos encerrados e o número de postos de trabalho destruídos nos últimos 12 meses. De outra forma, o cidadão comum, que ainda está convencido que as farmácias são dos negócios mais protegidos da economia nacional, pode pensar que declarações deste calibre não passam de areia para os olhos.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

"We don't really care"



Via Léxico Familiar.

Momentos altos:

"If I see an oppontunity to make money I go with that."


"For most traders - we don't really care about how they're gonna fix the economy, how they're gonna fix the whole situation. Our job is to make money from it."


"Governments don't rule the world. Goldman Sachs rules the world."

Jornalismo - modo de não fazer

No Sound + Vision, João Lopes já escreveu diversas vezes sobre a relação simplista que a comunicação social mantém com o cinema. Num post intitulado Filmes & bilheteiras, surge a seguinte pergunta: "porque é que há toda uma lógica jornalística que só dá atenção aos títulos cuja produção envolveu algumas centenas de milhões?"

Parte da resposta é referida no próprio post e prende-se com os montantes astronómicos investidos na promoção das grandes produções. A outra face da moeda é a cada vez maior dependência da comunicação social das informações fornecidas por agências e profissionais de comunicação e a reciclagem acrítica de estatísiticas e sound bites. Um sinal claro da incapacidade e da demissão do trabalho jornalístico sério, que interrogue, investigue, contextualize e esclareça.

O Facebook e a violação da privacidade (passe a redundância)

Facebook Is Tracking Your Every Move on the Web; Here’s How to Stop It


Uma leitura essencial para quem não acha muita piada à ideia de ter uma empresa a recolher, sem consentimento expresso, o seu histórico de navegação na internet.

domingo, 25 de setembro de 2011

As consequências da austeridade

Ainda da notícia do The Guardian, um parágrafo que ilustra bastante bem o erro de raciocínio que preside às medidas de austeridade:


Já não é só que a longo prazo, como dizia Keynes, estaremos todos mortos; é que os mais frágeis que ainda cá  andarem estarão em piores condições para superar as dificuldades.

Impactos irreversíveis

A UNICEF publicou um relatório sobre as consequências das medidas de austeridade para as crianças. Segundo o The Guardian, "A study by the UN children's fund, Unicef, said there would be 'irreversible impacts' of wage cuts, tax increases, benefit reductions and reductions in subsidies that bore most heavily on the most vulnerable in low-income nations." O pdf do relatório está disponível aqui.

sábado, 24 de setembro de 2011

O futuro da internet

A Federal Communications Commission (FCC) aprovou, no final do ano passado, um novo regulamento sobre a neutralidade na prestação de serviços de internet, com produção de efeitos a partir do final de Novembro. O pdf está disponível aqui.

Forever young


Doodle interactivo celebrando o 75º aniversário de Jim Henson.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O fim da privacidade?

Para quem é utilizador do Facebook, ou se interessa pelo tema, vale a pena ler o artigo de Ben Parr sobre as implicações das novas funcionalidades da rede social de Mark Zuckerberg para a privacidade dos seus utilizadores.

Esta austeridade, para quê?

Não faltam políticos, comentadores e empresários a defender a redução de salários para aumentar a competitividade das empresas e da economia nacional. Deduzo que seja consensual que, com menos poder de compra, piora o nível de vida das pessoas. Se aceitarmos este raciocínio, que parece ser, como diziam os outros, uma verdade auto-evidente, impõe-se a pergunta a que nenhum dos iluminados políticos, comentadores e empresários ousa responder: para que queremos nós uma economia competitiva que não traz qualidade de vida às pessoas?

Dicionário de política do século XXI

Austeridade: medidas de política económica que implicam o sacrifício das gerações actuais para assegurar a penúria das gerações seguintes.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Borrasca na RTVE

Há borrasca da grande na RTVE depois de elementos do Conselho de Administração terem aprovado uma medida que lhes permitiria ter acesso ao sistema informático de edição de conteúdos. Os conselheiros voltaram atrás com a decisão, mas as repercussões do caso parecem longe do fim. O blogue 233grados tem acompanhado a evolução do caso com vários textos a merecer atenção.

Transparência, diziam eles

Várias leituras para uma notícia, no mínimo, estranha.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

terça-feira, 20 de setembro de 2011

PluralMag

Um projecto muito interessante, com a assinatura do Paulo Querido.

Dúvidas existenciais

Quando Passos Coelho decidiu, como "medida de prevenção", espoliar metade do subsídio de Natal dos portugueses, fê-lo porque já sabia do desvario das contas da Região Autónoma da Madeira?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Os pobres que paguem a crise

Alguém explique ao Bastonário da Ordem dos Médicos quem são os estratos sócio-económicos que consomem fast-food. É que a ideia que o senhor propõe vai acabar a penalizar os do costume.

domingo, 4 de setembro de 2011

Esperança

Alemanha: CDU derrotada em eleições no círculo de Merkel

Happy Birthday Mr. Google

O cerco


Ainda mal passaram dois meses de governação e Passos Coelho já meteu na fogueira o seu ministro das Finanças. Depois de repetidamente o termos visto dar a cara sozinho pelo aumento de impostos, hoje tivemos o frete do DN a meter nos ombros de Vítor Gaspar aquilo que é uma responsabilidade colectiva do governo, e do seu primeiro-ministro acima de todos. Com uma capa destas, o ministro das Finanças já sabe o que o espera. O cerco começa em S. Bento. Quando chegar o momento, será o bode expiatório perfeito.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Falhanço

Paul Krugman interroga-se como é que economistas reputados como ele próprio e Joseph Stiglitz foram olimpicamente ignorados ao defenderem que o principal problema era de crescimento e emprego e não de dívida pública. Há um trabalho interessantíssimo a realizar para compreender como é que, após a queda da AIG e do Lehman Brothers, as agendas políticas e mediáticas divergiram da crise económica para se concentrarem obstinadamente numa crise de dívida soberana. Uma coisa é certa, a comunicação social falhou miseravelmente a promoção do pluralismo e do debate informado.

O caminho alternativo

Do amor


Via French Kissin'

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vazio histórico

Estou desde as cinco da tarde a ler as notícias que vão sendo publicadas online e ainda não percebi onde é que está o corte histórico de despesa que o governo prometia. Não devo estar a procurar nos sítios certos. Só pode.

Perguntas óbvias

A propósito das medidas de sobrelotação das creches (que a imprensa suave insiste em apelidar de aumento de vagas), duas perguntas óbvias:

a) Em que estudos, de que técnicos, feitos quando e onde se baseia este aumento do número de lugares por sala? O limite anterior revelou-se errado e está ultrapassado? Porquê? 

b) O co-financiamento do Estado às IPSS vai ser revisto para contemplar o facto de haver mais alunos por sala, logo por educador, auxiliar, etc. ou a capitação mantém-se aumentando assim em termos reais a receita das ditas instituições?

O grande embuste

A RTP é uma empresa cujo quadro financeiro pode ser resumido da seguinte forma: é subsidiada pelo Estado, tem dívidas de centenas de milhões de euros e dá prejuízo anualmente. Apesar dos subsídios, o resultado do exercício anual é negativo e para isso muito contribuem as avultadas dívidas. Ninguém, no seu perfeito juízo, considera que uma empresa nestas condições seja um bom investimento. Contudo, as movimentações para ganhar vantagem numa futura privatização são óbvias. 

As receitas dos operadores dos canais de televisão são escassas para garantir a sustentabilidade do negócio. Como é evidente, a privatização da RTP vai criar um terceiro operador a competir em força por receitas publicitárias, o que se traduz numa quebra de preços. A isto acresce que as despesas com publicidade têm a característica de não só acompanharem o ciclo económico como ultrapassarem em amplitude a variação do desempenho da economia. Ou seja, quando o PIB cai, as despesas com publicidade caem proporcionalmente ainda mais. 

Perante esta realidade, duas linhas de acção parecem ganhar forma. A primeira é o saneamento das dívidas da RTP, que tanto pesam no seu resultado negativo. O pagamento antecipado de centenas de milhões de euros da dívida, anunciado esta semana pelo governo, cumpre o desígnio de entregar ao sector privado uma empresa com outra folga financeira. A segunda é subsidiar um serviço público de televisão prestado por operadores privados, que tem como função adicional garantir a sustentabilidade do negócio desses operadores. As movimentações dos grupos económicos interessados na privatização da RTP compreendem-se melhor à luz destas preciosas ajudas. 

A privatização da RTP, a realizar-se, tem tudo para acabar sendo mais um dos negócios ruinosos em que o contribuinte deixa de subsidiar uma empresa pública para passar a subsidiar três empresas privadas. É o liberalismo versão PSD-PP no seu melhor.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Diz que são uma espécie de liberais

A notícia de que o governo PSD-PP quer criar uma base de dados com informações sobre a saúde dos portugueses tem tanto de rocambolesca como de assustadora. Tal como salienta a CNPD, a solicitação do parecer está tão mal formulada (quer seja por amadorismo ou por receio de abrir o jogo) que é preciso algum esforço interpretativo para se perceber onde quer o governo chegar. Para já, o que fica claro é que esta é uma das maiores ameaças à privacidade dos cidadãos que se possam imaginar. A saúde de cada um de nós é um dos recantos mais íntimos da vida pessoal. Saber que ela poderá ser transformada em base de dados, com todos os problemas de segurança e confidencialidade que isso levanta, é um pensamento arrepiante. Curiosamente, os liberais de pacotilha do governo de Passos Coelho não parecem muito incomodados com estas minudências.

Repúdio

Um mínimo de sentido de dignidade não pode conduzir a outro resultado que não ao repúdio público das excrescências deste indivíduo.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O arquitecto no seu labirinto

Anda por aí uma petição para boicotar o semanário Sol. Tal como a Helena, não consigo boicotar um produto que não compro nem nunca comprei, embora compreenda bem a indignação dos signatários. Sobre o texto de José António Saraiva, a Helena já escreveu o essencial. Do seu texto, destaco o último parágrafo, por me parece que representa perfeitamente aquilo que sinto:

"(...) não é necessário pôr em causa as nossas referências nem baralhar os nossos pobres espíritos.
Nem – já agora – complicar a vida aos pobres jornalistas, pondo-os a pensar se estará certo dizer ‘o ex-marido de Jorge Nuno de Sá’.
"

"baralhar os nossos pobres espíritos" e "complicar a vida aos pobres jornalistas, pondo-os a pensar"
Homem, porque não avisou logo no princípio? Poupava-me o trabalho de o levar a sério!


Há uns anos, JAS escreveu um texto em que, a propósito de uma deslocação a Caxias, descrevia a freguesia como algo próximo de um inferno labiríntico esquecido por Deus. A verdade é que Caxias é uma localidade situada numa colina de onde se avistam o mar e o monte do Jamor, com uma dúzia de ruas, onde não é difícil perceber quais são as vias principais. De quem vive do jornalismo, parece-me, espera-se outro tipo de relação com a verdade. Deturpar deliberadamente factos para apimentar uma historieta devia ser motivo de repulsa para qualquer pessoa que preze a profissão e o seu próprio bom nome. Ao longo dos anos, tenho vindo a convencer-me que JAS não se encontra neste grupo de pessoas. Gastar dinheiro no que quer que seja que tenha a sua assinatura está completamente fora de questão.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Gostar de blogues

Uma contextualização simples e certeira.

A globalização é para todos

Fall in German business confidence stokes recession fears

A quebra de confiança na economia alemã é uma má notícia para toda a Europa, muito especialmente para a zona euro. O artigo do Guardian chama a atenção para o importante papel que o consumo alemão desempenha na recuperação das economias periféricas. Mas o reverso da medalha é que sendo a Alemanha um país fortemente exportador, depende do resto da Europa e do mundo para continuar a ser um caso de sucesso. Como já tem sido apontado muitas vezes, a crise das economias periféricas é, a prazo, a crise da economia alemã.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Políticos com humor

Encontraram 6,5 milhões de euros em facturas não contabilizadas. Bravo. Já só faltam 1.993,5 milhões para justificar o desvio colossal.

Entretando, todas as semanas surgem desculpas novas para o aumento do IVA no gás e na electricidade. Para o governo, parece que “'um dos problemas dos investidores em Portugal' se deve a 'um sistema que é volátil e diferente dos outros'". Portanto, os investidores não gostavam de ter uma taxa de IVA baixa. A RTP não esclarece se Carlos Moedas conseguiu dizer tudo sem se rir.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Six more years

O governo inglês, que tem vindo a aplicar a receita da direita europeia para a crise, cortando em tudo o que é apoio social, prepara-se para gastar um bilião de libras em 14 helicópteros de guerra. É sempre gratificante saber que os sacrifícios pedidos às classes médias são aplicados em tão nobres causas. A BBC adianta que o modelo Chinook é "vital" para as operações no Afeganistão, com as entregas a estenderem-se de 2013 a 2017. Para bons entendedores...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Défice

Merkel e Sarkozy propõem suspensão dos fundos estruturais aos países com défices elevados
A União Europeia tem sensivelmente 500 milhões de habitantes. Perto de 355 milhões não têm qualquer oportunidade eleitoral para expressarem o que pensam sobre as políticas de Sarkozy e Merkel. Por alguma estranha razão, há quem queira fingir que não existe um profundo défice democrático na UE.

Caminhos perigosos

Historians say Michael Gove risks turning history lessons into propaganda classes

Academics warn against education secretary's plan to celebrate Britain's 'distinguished' role in world affairs


A direita europeia continua a trilhar caminhos que não podem acabar bem. O isolacionismo, a deterioração das relações de trabalho, as desigualdades económicas e o chauvinismo ressentido, afundarão o projecto europeu muito antes da crise da dívida pública.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Neo-colonialismo

A receita da austeridade como resposta à crise económica não tem funcionado em nenhum país. Por isso, a forma como a inebriada direita europeia continua a insistir na mesma tecla começa a assumir contornos de desordem obsessiva-compulsiva. No seu delírio, o melhor que Berlim tem para oferecer a uma Europa a precisar desesperadamente de integração fiscal e orçamental e de reforço da sua base democrática é a criação de órgãos executivos cuja actuação está completamente fora do controlo dos eleitores europeus, subordinada a uma lógica de punição moralista. Parece cada vez mais evidente que o futuro da União Europeia passa pelas mãos dos eleitores alemães, que devem decidir se continuam a sancionar a visão neo-colonialista do governo de Angela Merkel.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Engenharia social

Durante anos, os blogues de direita irradiaram a sua aversão àquilo que pejorativamente apelidaram de engenharia social. Usaram o termo especialmente para lutar contra a lei do aborto e contra o casamento de pessoas do mesmo sexo. Mas foi preciso um governo de ultra-liberais para o país assistir a uma investida sem precedentes neste domínio. Apadrinhada pela Presidência da República, a coligação PSD-PP promete desmantelar o Estado Providência, retirar protecção legal a quem trabalha, criar um sistema de castas na saúde e na educação, colocar os pobres a depender da caridade e os desempregados a trabalhar de graça. Isto, sim, é todo um mundo novo, muito pouco admirável.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Intoxicação

O processo que culminou nas negociações em regime de exclusividade entre o governo PSD-PP e o BIC, para venda do BPN, tem tão pouco de transparente que custa a crer que se brinque assim com o dinheiro dos contribuintes. Contribuintes esses que, de resto, andam a pagar factura atrás de factura do desvario do sector financeiro, agora convertido, por milagre neo-liberal, em problemas de dívida pública.

Um dos exemplos desta conversão forçada pode ser lido nas recentes declarações de Miguel Cadilhe sobre o negócio BPN, nas quais o ex-ministro cavaquista afirma que o “Estado não encontrou solução nenhuma”. Mas, de facto, não foi o Estado a não encontrar soluções, foi o governo PSD-PP a ensaiar um negócio ruinoso para o Estado português. A transformação de uma gestão fraudulenta do banco e de uma decisão política pouco transparente do actual governo em mais um “problema” do Estado é todo um tratado de intoxicação ideológica.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Solidariedade aos milhões

Da próxima vez que Cavaco e o governo PSD-PP voltarem a louvar o sector privado de solidariedade social, em detrimento do Estado Providência, convém ter este artigo à mão:

Abused and Used: Reaping Millions in Nonprofit Care for Disabled

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Sem lei

Uma das poucas vozes a denunciar os efeitos nefastos da precariedade laboral no jornalismo:

"O escândalo das escutas que levou à extinção do "News of the World" é a ponta do "iceberg" daquilo a que certos media estão dispostos na guerra pelas audiências e pelos recursos publicitários.

O NoW terá mantido sob escuta clandestina cerca de 4 000 telefones de gente da política, do espectáculo e dos negócios, usando as gravações como fonte de notícias, obviamente não citada ou citada sob os narizes-de-cera também comuns na imprensa portuguesa: "O NoW sabe que", "Segundo fontes próximas de", "Segundo fontes fidedignas"... Serviria ainda, sempre sob a capa das fontes anónimas, de caixa de correio a numerosos políticos para divulgar informações "quentes" sobre os adversários.

Nada que surpreenda quem conheça hoje a imprensa por dentro. Ao contrário do que pode julgar quem só vê o lado de cá das câmaras de TV e dos jornais, não somos todos, jornais e jornalistas, bons rapazes. Como no Reino Unido, também entre nós a concorrência, a cultura dominante do dinheiro e da competição sem regras, juntamente com a precariedade e vulnerabilidade profissionais em que se exerce hoje o jornalismo, constituem (já o tenho dito outras vezes) um caldo de cultura propício à delinquência deontológica. A condescendência corporativa e a inoperância da auto-regulação fazem o resto.

Talvez seja injusto, mas suspeito que, se estalasse entre nós um escândalo como o do NoW, dificilmente faria manchete nos outros jornais.
"

Liberdade para enganar

O trabalho das agências de rating transformou-se num esoterismo de tal ordem que, para defenderem a sua actividade recente, afirmam "que apenas emitem 'opiniões' amparadas pelo direito à 'liberdade de expressão'". Seria de esperar que entidades com a responsabilidade que as agências de rating assumem na economia mundial conseguissem suportar o seu trabalho em conhecimentos periciais. Ninguém imagina um gabinete de engenharia, uma firma de advogados ou uma clínica médica a invocarem a liberdade de expressão em defesa da avaliação de um projecto, de um parecer ou de um diagnóstico. Cada vez se torna mais claro que nas agências de rating parece haver de tudo, menos trabalho sério e honesto.

Espiral descendente

Um artigo de Joseph Stiglitz muito claro sobre o que nos espera se os políticos europeus mantiverem a sua passividade e o seu enviesamento neo-liberal. Excertos:

"As Greece and others face crises, the medicine du jour is simply timeworn austerity packages and privatization, which will merely leave the countries that embrace them poorer and more vulnerable. This medicine failed in East Asia, Latin America, and elsewhere, and it will fail in Europe this time around, too. Indeed, it has already failed in Ireland, Latvia, and Greece."

"[T]he financial markets and right-wing economists have gotten the problem exactly backwards: they believe that austerity produces confidence, and that confidence will produce growth. But austerity undermines growth, worsening the government’s fiscal position, or at least yielding less improvement than austerity’s advocates promise. On both counts, confidence is undermined, and a downward spiral is set in motion."

domingo, 3 de julho de 2011

(New) New Deal

Ex-chefes de Estado e de Governo, incluindo Sampaio, defendem “new deal” europeu

Se os actuais políticos europeus não conseguem ver para além da próxima eleição local, talvez tenham de ser os ex-políticos europeus a apontar o caminho para salvar a Europa.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Para mais tarde recordar

«Não vamos andar de três em três meses a apresentar novas medidas».

Why don't you do right


Dedicado, com muito carinho, a todos os eleitores que votaram PSD porque "cortar nos subsídios de férias ou de Natal era um disparate", ou porque "não se podia pedir mais sacrifícios aos portugueses", ou porque "o défice devia ser reduzido do lado da despesa e não da receita", ou porque...

sábado, 25 de junho de 2011

O trunfo

O i entrevistou Medina Carreira. A entrevista não varia o estilo a que o comentador nos habituou: frases bombásticas, ideias mal sustentadas, convicções apocalípticas. Por isso, não surpreende que raramente junte mais de três frases numa resposta. Para alguém que é frequentemente apresentado como especialista em finanças e fiscalidade, é pouco. Medina Carreira não faz um único diagnóstico nem avança uma única solução que um merceeiro de rua não seja igualmente capaz de vislumbrar.

A cereja no topo do bolo desta entrevista, e que o i vislumbrou claramente chamando-a à capa, é o elogio salazarista. Para Medina Carreira, Salazar era um bom gestor e precisávamos de outro homem assim. O que Medina Carreira não diz é que é fácil controlar o orçamento quando se tem o parlamento e as autarquias na rédea curta do partido único e quando se abdica de milhões de portugueses, abandonados ao analfabetismo, à fome, à mortalidade infantil, à falta de saneamento básico, à falta de transportes públicos e à falta de sistema nacional de saúde. É fácil controlar as contas quando não se ambiciona mais que o miserabilismo.

O que já surpreende nesta entrevista é que, num momento tão difícil para o país, estes obstinados críticos de tudo o que mexe e respira não se apresentem como alternativa política. Pois é na política que tudo se joga – não no conforto das páginas de jornal e dos estúdios de televisão. Mas quando questionado sobre uma candidatura à Presidência da República, a resposta é pronta: “isso ia dar grandes confusões na minha vida e o resultado não seria nenhum”. Ficar de fora à espera que os outros façam, convenhamos, é bastante mais fácil. E quando corre mal, pode sempre meter-se as culpas em alguém. É o trunfo dos cobardes.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Regressos

Percebi hoje que o Terapia Metatísica regressou há 3 meses. Já disse algures que o Terapia Metatísica é um blogue que faz apetecer escrever. Mas hoje não vou estar com muitos rodeios: o Terapia Metatísica é um dos melhores blogues escritos em português. Vão por mim.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Padrões elevados

A história é simples. Num curso ministrado pelo Centro de Estudos Judiciários apareceram testes com respostas muito semelhantes a indiciar "copianço generalizado". A solução encontrada pelos responsáveis do CEJ foi atribuir nota 10 a todos os formandos. O que significa que quem copiou não chumba e quem não copiou recebe uma nota que não leva em linha de conta o seu efectivo mérito. Diz que é uma escola de Justiça.

Leitura muito recomendável

Por que é que os economistas aparentam saber tão pouco sobre a economia?

Explica muita coisa. Explica mesmo muita coisa.

O amigo paquistanês

CIA's Osama bin Laden informants arrested by Pakistan – report

The detention of five informants involved in lead-up to Bin Laden killing is seen as sign of fresh US-Pakistan discord


O empenho do Paquistão na luta contra o terrorismo chega a ser comovente.

Sinais do que aí vem

O ataque ao sector público é uma realidade que apenas aguarda a tomada de posse do novo governo. Os sinais são claros e vêm de onde menos se espera. O presidente da Entidade Reguladora para a Saúde defende que existem unidades hospitalares a mais em Portugal. E em que é que o presidente da ERS se baseia para o afirmar? Na sua convicção: "Apesar de estar convencido que a rede hospitalar é excessiva, Jorge Simões diz que é ainda preciso fazer estudos técnicos caso a caso."

Não deixa de ser surpreendente que pessoas com responsabilidades a este nível no sector produzam afirmações sem sequer terem os dados para as suportar. O melhor que Jorge Simões consegue é dizer-nos que "Não faz sentido ter a 15 minutos de um hospital outro pequeno hospital com um ou dois pediatras ou com um ou dois obstetras e que não dê resposta com qualidade necessária e que crie despesa que não faz sentido". Ninguém discordará disto, mas existem de facto hospitais nessas condições? Ou estamos apenas a preparar as populações para a sangria que aí vem? Porque a impressão que fica é que se Jorge Simões quisesse iniciar aqui um debate esclarecedor ter-nos-ia fornecido casos concretos onde se duplicam valências e custos sem justificação para a dimensão das populações servidas.

A terminar, um sinal também para os profissionais do sector,propondo-se uma "utilização mais eficiente das profissões de saúde, alargando por exemplo as funções dos enfermeiros". Como o acordo com o FMI, UE e BCE não se compagina com o aumento do número de funcionários públicos ou com o aumento dos encargos salariais, os enfermeiros já sabem que podem contar com mais trabalho pelo mesmo dinheiro e com as mesmas (ou ainda menos) pessoas.

São as reformas estruturais. Habituem-se, porque é só o começo.

domingo, 12 de junho de 2011

Jornalismo de referência

O Público continua em grande forma. Esta manhã informava: "Policial da GNR baleado na cabeça em Quarteira". Duas horas depois, alguém terá feito o favor de explicar à redacção do jornal que a GNR é uma força de segurança de natureza militar. Agora só falta explicar à impaciente São José Almeida que Passos Coelho só será primeiro-ministro depois de tomar posse. Por incrível que pareça, a Constituição não prevê dois primeiros-ministros em funções simultaneamente. Mas não deixa de ser uma ideia engraçada que o PSD pode introduzir na famosíssima revisão constitucional pela qual tanto suspira.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Pois

A liberdade de expressão tem dias...

O abismo

De austeridade em austeridade, até à bancarrota final.

Não há coincidências

Desde que o PSD ganhou as eleições que o céu se cobriu de nuvens e as temperaturas baixaram drasticamente. Talvez esteja na altura de pensar se isto não será mais do que apenas uma coincidência. Just sayin'...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Danos colaterais

Veinticinco mil noticias acusan a los productos españoles del E. Coli


As consequências deste tipo de cobertura mediática, num mundo que consome notícias, como quase tudo o resto, de uma forma globalizada, são incalculáveis. Reduzir esse impacto apenas à sua vertente económica é pecar, e muito, por defeito.

Validações legislativas


Uma manchete perfeitamente idiota.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pedro Passos Coelho, em acção de campanha do PSD, visita uma feira

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Uma notícia muito interessante no Público Online, de 30 de Maio.

Uma notícia muito interessante no Guardian.co.uk, de 29 de Maio.

Excertos dos dois artigos, para quem se queira divertir a descobrir as diferenças:

Twitter has been forced to hand over the personal details of a British user in a libel battle that could have huge implications for free speech on the web.
The social network has passed the name, email address and telephone number of a south Tyneside councillor accused of libelling the local authority via a series of anonymous Twitter accounts. South Tyneside council took the legal fight to the superior court of California, which ordered Twitter, based in San Francisco, to hand over the user's private details.

A rede de microblogging viu-se obrigada a fornecer o nome, o e-mail e o número de telefone de um britânico acusado de ter publicado uma série de tweets - através de uma série de contas anónimas de Twitter - que difamavam as autoridades locais de South Tyneside.
A acção foi levada ao Supremo Tribunal da Califórnia pelas autoridades do município de South Tyneside. Por sua vez, o Supremo ordenou ao Twitter, com base em São Francisco, que divulgasse os dados privados do autor dos comentários difamatórios.

It is believed to be the first time Twitter has bowed to legal pressure to identify anonymous users and comes amid a huge row over privacy and free speech online.

Esta é a primeira vez que o Twitter se vergou à pressão legal para identificar utilizadores anónimos. Muitos analistas consideram que este é um perigoso antecedente para a liberdade de expressão online.

Ahmed Khan, the south Tyneside councillor accused of being the author of the pseudonymous Twitter accounts, described the council's move as "Orwellian". Khan received an email from Twitter earlier this month informing him that the site had handed over his personal information. He denies being the author of the allegedly defamatory material.

Ahmed Khan, suspeito de ser o autor dos comentários, descreveu esta medida como “orwelliana”. Khan - que também é membro do município - recebeu um e-mail do Twitter no início deste mês informando-o que o site tinha fornecido as suas informações pessoais. O homem nega que seja ele o autor das mensagens anónimas difamatórias sobre o município e sobre outros conselheiros locais.

"It is like something out of 1984," Khan told the Guardian. "If a council can take this kind of action against one of its own councillors simply because they don't like what I say, what hope is there for freedom of speech or privacy?"

“Se um município pode tomar este tipo de acção contra um dos seus conselheiros simplesmente porque não gosta dele, que tipo de esperança é que resta para a liberdade de expressão e para a privacidade?”, disse, citado pelo “The Guardian”.

Khan said the information Twitter handed over was "just a great long list of numbers". The subpoena ordered Twitter to hand over 30 pieces of information relating to several Twitter accounts, including @fatcouncillor and @ahmedkhan01.

Khan indicou ainda que a informação que o Twitter forneceu era apenas “uma longa lista de números”. A intimação ordenava ao Twitter a entrega de mais de 30 elementos informáticos relacionados com várias contas, incluindo estas duas: @fatcouncillor e @ahmedkhan01.

"I don't fully understand it but it all relates to my Twitter account and it not only breaches my human rights, but it potentially breaches the human rights of anyone who has ever sent me a message on Twitter.

“Eu não compreendo inteiramente o que se passa mas isto relaciona-se com a minha conta do Twitter e não só viola os meus direitos como ser humano, mas potencialmente viola os direitos de qualquer pessoa que alguma vez tenha enviado uma mensagem através do Twitter”, disse, igualmente citado pelo “The Guardian”.

"A number of whistleblowers have sent me private messages, exposing any wrongdoing in the council, and the authority knows this."

“Uma série de delatores enviaram-me mensagens privadas, expondo más práticas no município, e a autoridade sabe disto”. E acrescentou: “Nem sequer fui informado que o caso foi levado até um tribunal da Califórnia. A primeira vez que soube disto foi quando fui contactado pelo Twitter”

"Even if they unmask this blogger, what does the council hope to achieve? The person or persons concerned is simply likely to declare bankruptcy and the council won't recover any money it has spent."

“Mesmo que desmascarem o culpado, o que é que o município espera conseguir? A pessoa ou pessoas envolvidas declaram bancarrota e o município nunca irá recuperar nenhum do dinheiro que gastou com isto”, estimou.

A spokesman for south Tyneside council said the legal action was brought by the authority's previous chief executive, but has "continued with the full support" of the current head.

Um porta-voz do município de South Tyneside indicou que a acção legal foi iniciada pelos anteriores responsáveis pela autarquia, mas que ela continuou com “total apoio” do poder actual.

He added: "The council has a duty of care to protect its employees and as this blog contains damaging claims about council officers, legal action is being taken to identify those responsible."

“O município tem o dever de proteger os seus funcionários e uma vez que este blogue contém insinuações danosas acerca de membros do município, a acção legal serve para identificar os responsáveis”, indicou ainda o mesmo porta-voz.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011

No Les Votes

Não concordo com algumas coisas que aqui são ditas, mas é uma conversa interessante para ajudar a perceber o dinamismo das redes sociais e o que aconteceu em Madrid.

Tempus Fugit

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Uma enciclopédia para o futuro

Um sítio interessante a explorar, para quem se interessa por jornalismo e media:

Encyclo is an encyclopedia of the future of news, produced by the Nieman Journalism Lab.

Desporto rei

Ontem à noite, dois clubes regionais de um país periférico e falido jogaram entre si uma partida de futebol na capital de outro país periférico e falido. O cenário alternativo seria um jogo entre o Villareal e o Benfica. O Villareal é um clube de uma cidade que ninguém sabe bem onde situar num mapa e o Benfica é um clube que perde com o Braga. O Braga, por amor de Deus, é um clube que perde com o Sporting (o Sporting!). Ao Sporting até o Benfica, a jogar com dez, consegue ganhar por dois a zero. Para a desgraça ser completa, só falta o Barcelona, um clube que vem de uma região com um número de habitantes quase igual ao número de adeptos benfiquistas, ganhar novamente a Liga dos Campeões.

sábado, 14 de maio de 2011

Já cá faltava

Agora, para explicar os maus resultados nas sondagens, é a estratégia de comunicação que não tem funcionado. É uma agradável ironia que uma apreciação desta natureza venha do incontinente verbal Eduardo Catroga.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Crescimento sustentável

Portanto, ficámos a saber que com o PSD no governo vamos ser brindados com uma Segurança Social mais débil e descapitalizada (redução da TSU) e com um cabaz de compras mais caro (alterações no IVA). Cavaco já disse que assina em baixo. Dizem que assim é que nos tornamos competitivos e crescemos. O eleitor deve recordar-se disso quando o subsídio de desemprego ou a reforma não lhe chegarem para as compras da mercearia.

É basicamente isto (agora em poucas palavras)

"Pois eu, continuo a achar-lhe piada. Desculpem lá, mas, para mim, o objectivo do vídeo foi completamente cumprido; divertiu-me. Vou aprender história com aquilo? Não. Vou achar que os finlandeses vão, de repente, mudar de ideias por causa do vídeo? Não. Vou sentir-me mais portuguesa por causa do vídeo? Não. Vou preocupar-me por aquilo ter sido feito por betos, ou por gajos de direita, ou de esquerda, ou do centro? Who gives a shit. Sinto-me representada naquele vídeo? Em algumas coisas sim (as partes do Benfica, evidentemente), noutras nem por isso.

Andamo-nos a levar demasiado a sério. Para mim, aquilo não é uma mensagem política, ou uma tentativa de instrumentalização da massas. É um vídeo de 6 minutos e pouco, que me diverte.
"

Crítica ao bota-abaixismo

Algumas pessoas, provavelmente iludidas pela duração do filme Portugalnomics, não perceberam que estavam a olhar para uma publicidade longa e julgaram estar a olhar para um documentário curto. Enganaram-se. O ritmo, a linguagem e o estilo pertencem à publicidade e é a partir daqui que devemos encarar aqueles já célebres seis minutos e meio.

Do que tenho lido, as críticas passam por dois pontos principais. O primeiro é o dos erros factuais. Evidentemente, os erros históricos merecem reparo. Por um lado, mostram que ninguém se deu ao trabalho de validar a informação ali reproduzida ou que, se isso foi feito, escolheram mal as pessoas para o fazer. Por outro, a colecção de erros transporta o buzz mediático nas redes sociais para um aspecto que passa ao lado do objectivo primeiro que é o de ser um filme motivacional. Há muitas pessoas que encararam este filme como uma mensagem aos finlandeses. Novamente, estão enganados. É um filme promocional upbeat sobretudo para consumo interno.

A segunda crítica apontada ao filme é a sua suposta mensagem nacionalista. Só quem não percebe, ou teima em não perceber, o registo publicitário do filme é que pode tirar uma conclusão destas. No fundo, o que estão a fazer não é muito diferente de, perante um anúncio de uma marca de automóveis, dizer que a mensagem está enviesada. É claro que está. É publicidade e é suposto estar.

O problema que se levanta aqui é o das narrativas. Parece haver demasiadas pessoas habituadas a construir ou consumir narrativas de sinal negativo sobre Portugal. Quando alguém propõe uma narrativa diferente, mesmo que enquadrada num registo claramente promocional, os anti-corpos manifestam-se. Numa página do Facebook, alguém pergunta o que quer dizer que fomos nós que inventámos o pastel de nata, porque, obviamente, cada país inventa a sua própria pastelaria. Ora, se não me escapa nada, dizer que fomos nós que inventámos o pastel de nata quer apenas dizer que fomos nós que inventámos o pastel de nata. Outros povos terão inventado outras iguarias. Nós temos esta, melhor do que algumas, pior do que outras, mas, de uma forma geral, bastante apreciada por nativos e turistas. Frisar um leque de atributos eventualmente positivos – supostos feitos históricos, pretensos vedetismos internacionais, putativos traços culturais idiossincráticos – num registo desta natureza não pode ser equiparado a um exercício de chauvinismo. É apenas um dos lados do que pode ser dito. O facto de haver o reverso da medalha e de o mesmo não ter sido referido apenas seria relevante se estivéssemos a falar de um conteúdo com outras pretensões e com outro enquadramento, em que o rigor, a objectividade e o distanciamento constituíssem factores fundamentais da legitimação do discurso produzido. Não é esse o caso.

Em termos pessoais, não me podiam ser mais indiferentes os conceitos de nacionalismo ou patriotismo. Têm uma dimensão histórica e política que não pode ser ignorada, mas em momento algum senti que os termos nacionalista ou patriota fossem úteis para explicar a minha forma de estar. Nasci e cresci em Lisboa, frequentei o sistema de ensino português, recorro ao sistema de saúde português, sou contribuinte e beneficiário do Estado Providência da República Portuguesa. Tudo isto faz de mim português. Independentemente dos locais para onde o futuro me leve, este passado e presente estarão indelevelmente marcados na minha experiência e na minha forma de estar. Não tenho especial orgulho ou vergonha das acções e processos pelos quais não sou responsável directo. Parece-me estranho que a minha auto-representação passe por identificações com um determinado território geográfico ou com uma determinada entidade político-administrativa. Estou consciente de que sou sensível às suas influências, mas não considero que façam de mim uma tipificação. Interessa-me o bem-estar das entidades políticas que me representam, porque acredito que não se constrói uma sociedade justa e próspera sem esse bem-estar. É-me irrelevante o nível da entidade política (local, nacional, supra-nacional), tal como me é irrelevante a divisão territorial e o nome que decidimos dar a tudo isto. Interessa-me o bem-estar e a prosperidade de Lisboa, de Portugal e da União Europeia, independentemente de me sentir mais ou menos lisboeta, português ou europeu, apenas porque são os locais político-administrativos que me representam. Se um dia o meu percurso me levar a residir e trabalhar noutras realidades geográficas e políticas, embora mantendo os laços afectivos aos locais de origem e à qualidade de vida dos que cá estão, o meu compromisso mais imediato e mais empenhado será, na medida em que tal seja possível, com as novas entidades político-administrativas de referência. Não é preciso ser nacionalista ou patriota para estar interessado e empenhado no sucesso de uma determinada sociedade.

Entre as pérolas que enchem os blogues e o Facebook, pode ler-se de tudo. Há quem tenha vergonha de um filme destes, há quem tenha vergonha de viver num país que faz um filme destes e há quem pareça achar que somos todos parvos, tontos, bacocos, paroquiais, provincianos e perigosos nacionalistas. Não haja dúvida que é conceder uma dimensão a um produto que seguramente ultrapassa os mais alucinados sonhos dos seus criadores. Por norma, devem alimentar-se reservas perante consensos hegemónicos. Mas também merecem toda a desconfiança as teorias que postulam a iliteracia geral, de onde apenas se salva – surpresa! - o autor das iluminadas linhas que nos explicariam, se estivesse ao nosso alcance a capacidade de compreender o seu brilhantismo, como somos simplórios. Ironicamente, quem decreta a ignorância alheia não percebe que incorre na mesmíssima paroquialidade que tanto critica. É por aqui que alcançam a sua realização intelectual e mediática? É para o lado em que durmo melhor.

Existe ainda uma terceira crítica apontada ao filme das Conferências do Estoril e que é a de se estar a fazer chantagem emocional sobre os finlandeses: ajudem-nos, porque nós também vos ajudámos em 1940. Novamente, recordemos que o filme é manifestamente para consumo interno e que não serve para pedir nada a ninguém. Podemos assumir que o final do spot promocional instrumentaliza o valor da solidariedade e que tenta impor-se a uma hipotética consciência colectiva finlandesa. Ou podemos assumir que tenta apenas promover a ideia de que os portugueses foram e serão solidários quando necessário. Não sei quantas pessoas contribuíram nem com o que contribuíram em 1940 para o auxílio à Finlândia. Naturalmente, não se pode encarar aquela operação sem a contextualizar no regime político salazarista e nas suas relações com os fascismos europeus. Mas estou disposto a dar como garantido que a maior parte das pessoas terá contribuído sobretudo por generosidade e solidariedade. Da mesma forma que contribuímos em 2010 para as vítimas do temporal na Madeira, independentemente de uma parte dos nossos impostos ser transferida anualmente para o arquipélago ou do que possamos sentir em relação ao governo regional. Acredito que, até existirem razões em sentido contrário, devemos conceder o benefício da dúvida ao julgar as intenções de terceiros e que devemos ter sempre presente que todos somos o outro de alguém.

Para todos os que se revêem no discurso sobranceiro do bota-abaixismo – o Estado não funciona, os políticos são todos corruptos, o povo é estúpido, será sempre assim e não há salvação possível –, gostaria de terminar dando-lhes razão num aspecto: o país não os merece.

domingo, 8 de maio de 2011

Equívocos

Andam aí umas reacções algo adversas ao filme produzido para o encerramento das Conferências do Estoril. Aparentemente, há quem não perceba a diferença entre um spot promocional e um compêndio de história portuguesa.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Novas tendências nos media

Pela primeira vez em 20 anos, o número de lares nos EUA com aparelho de televisão diminuiu. Os dados da Nielsen Company apontam dois grupos relevantes para este facto: os mais pobres e os mais jovens. Embora a taxa de lares com televisão se mantenha próxima dos 100%, o interessante é saber se estamos a assistir a apenas uma flutuação natural ou ao início de uma nova tendência.

A redução de aparelhos de TV em casa dos mais pobres tem uma explicação óbvia que passa pela crise económica. A preocupação, neste caso, é que, tratando-se dos mais desfavorecidos, estamos a falar de pessoas sem a possibilidade de substituir a TV por outros meios de informação. A crise económica cria assim uma nova classe de desinformados. Embora ainda muito marginal, um acontecimento desta natureza deveria ser alvo de reflexão em qualquer sociedade democrática.

Por outro lado, no caso dos mais jovens a situação é bastante diferente. Aqui trata-se essencialmente de uma opção voluntária por parte de quem estará mais habituado a sentar-se em frente ao computador do que em frente à televisão. De tal forma que a Nielsen pondera alterar as suas metodologias de trabalho para reflectir estas novas realidades. A pergunta que fica é: se a tecnologia permite dispor de internet na televisão e de televisão na internet, como é que se distingue a televisão da internet?

Elogio merecido

Por aqui também se elogia o PSD quando este mostra mérito no que faz. Sejamos francos, "está na hora de mudar o Passos Coelho" é um verso que fica no ouvido.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Contas simples

Se o governo e o PS não estiverem a dormir - e não devem estar - não será muito difícil fazer passar a ideia, junto da opinião pública, de que o pedido de ajuda externa apenas se tornou necessário depois do chumbo do PEC ter atirado os juros da dívida portuguesa para níveis incomportáveis. Independentemente de como uma pessoa encare o PEC IV ou as medidas preconizadas pelo acordo com FMI, quanto mais as segundas se aproximarem do primeiro maior será a dimensão da inépcia política do PSD percebida pelo eleitorado. É muito pouco provável que as próximas sondagens não apontem uma nova descida nas intenções de voto para os lados da Lapa.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma perguntinha

O governo, o FMI, o BCE e a CE chegaram a acordo sobre as condições para o empréstimo financeiro. O PSD já pode fazer o favor de dizer quando é que pensa poder apresentar um programa eleitoral?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Memória

Berlim está cheia de evocações do Holocausto. Uma delas é um Memorial que ocupa um quarteirão inteiro, no centro da cidade.



Mas são uns quadrados com menos de um palmo de lado que doem mais fundo.



A Helena Araújo, num texto tão belo quanto triste, capta com a sua sensibilidade única o retrato de uma sociedade que se recusa a perder a memória.