sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Truques de campanha

No Largo do Rato, os responsáveis pela campanha do PS acreditaram durante muito tempo que a "marca" José Sócrates era uma mais valia. Os mais recentes outdoors do partido parecem inverter essa tendência, apostando antes nas políticas implementadas ao longo dos últimos quatro anos. Por seu lado, na Santana à Lapa, o trunfo de campanha assenta na repetidíssima tecla da "verdade" e numa gestão de silêncios que emula o truque que levou Cavaco Silva até Belém. Entretanto, a inclusão de António Preto e Helena Lopes da Costa nas listas das legislativas encarregou-se de mostrar, de forma rápida e inequívoca, os limites da "política de verdade" do PSD. Quanto à gestão de silêncios, por muito que Ferreira Leite queira colar a sua imagem à do Presidente, nada leva a crer que a estratégia volte a resultar. O contexto não podia ser mais diferente e o PSD engana-se se pensa que pode extrapolar o que aconteceu nas presidenciais para o cenário das legislativas.

Fraquinho, fraquinho

O programa eleitoral do PSD chega tarde e promete muito estudo e muita ponderação. Em si mesmos, são bons princípios políticos. Mas quando é preciso, mais do que nunca, uma posição enérgica dos governos, o que o PSD nos pede são mais uns meses para pensar melhor sobre o assunto. Ferreira Leite confirma, assim, caso os eleitores não tenham memória do que foi o seu desempenho como ministra da educação de Cavaco Silva e ministra das finanças de Durão Barroso, que a sua preparação para governar o país se encontra muito abaixo do limiar do aceitável. Se fosse verdade que a disputa eleitoral se resume a um confronto entre figuras políticas (basta a antevisão do desmantelar da função social e de providência do Estado no programa do PSD para deitar por terra essa falácia), Manuela Ferreira Leite dá um bom sinal da tibieza que grassa na liderança do PSD.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Política falhada

Nos anos 60 e 70, o estado da Califórnia podia orgulhosamente apresentar-se como possuindo um dos sistemas prisionais com melhor desempenho a nível nacional e mundial. A lotação dos estabelecimentos encontrava-se bem dimensionada, os programas de reinserção social funcionavam a bom ritmo e as taxas de reincidência estavam abaixo da média. Depois disso, veio a guerra contra a droga e uma série de medidas legislativas que endureceram a penalização dos condenados. As penas aumentaram, a elegibilidade para liberdade condicional ficou consideravelmente mais difícil de obter, os programas de reinserção deixaram de ser modelos a seguir, as taxas de reincidência aumentaram brutalmente e a sobrelotação dos establecimentos atingiu níveis que o Supremo Tribunal considerou abaixo do limiar da dignidade humana, levando-o a conceder um prazo à Califórnia para encontrar uma solução para o seu sistema prisional.
O líder do CDS-PP não foi o primeiro a preconizar "políticas muito mais firmes" no domínio da segurança. Já outros o fizeram antes dele, em variados contextos, mas sempre tendo o populismo como denominador comum. Ironicamente, como a Califórnia descobriu com amargura, "políticas mais firmes" não são sinónimo de sociedades mais seguras, muito pelo contrário. Pensar a segurança acreditando que a óptica penal deve ser a pedra de toque das estratégias adoptadas é uma miopia política que, a prazo, sai cara a todos os níveis.

Uma estranha forma de ser

A inumeracia, como nos recordam vários estudos, é um dos problemas de défice de competências dos portugueses. Saber minimamente trabalhar com números não é apenas uma questão de saber fazer contas. É, sobretudo, uma questão de raciocínio lógico. No Margens de Erro, Pedro Magalhães recupera uma crónica de António Ribeiro Ferreira que ilustra bem este fenómeno. O "grande repórter" do Correio da Manhã, em poucas linhas, revelando toda a sua ignorância sobre o que é a estatística e como se elabora uma sondagem, considera desde já que é inadmissível que as próximas sondagens apresentem outra coisa que não sejam resultados conclusivos. No planeta em que ARF vive, margem de erro, nível de confiança, métodos de amostragem e de aplicação dos questionários são tudo pormenores que não devem interferir na obtenção dos resultados que os preconceitos deste candidato a iluminado da nação já estabeleceram como aceitáveis.
O resto da prosa de ARF é um tratado de pequenos ódios, ressentimentos e preconceitos difíceis de digerir. Que se possa chegar a "grande repórter", nem que seja do jornal da região, sem demonstrar a menor vontade de estudar e perceber do que se fala é um triste diagnóstico do estado da comunicação social portuguesa. São pessoas deste calibre que escolhem, editam e relatam a realidade económica, social e política do país.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Fazer juízos

Como Hannah Arendt fez notar, o juízo é uma capacidade humana por excelência. Abdicar de a usar é abdicar da própria centelha da humanidade que reside em cada um de nós.

Manual de más práticas

Perante as câmaras da RTP, Manuela Ferreira Leite deixou, ontem, mais uma pérola sobre o que não é fazer política. A líder do PSD não quer saber da veracidade das suspeitas lançadas pela Casa Civil da PR, basta-lhe o sentimento de desconfiança, neste caso alimentado artificialmente e à força pela comunicação social, que possa existir na sociedade. Para quem reclama por uma política de verdade, não está mau.

O aforismo "em política o que parece é", obviamente, não é política. É propaganda. Mas ainda que fosse aceitável, neste caso, o que parece é que a PR tem umas contas a ajustar com o governo, faltando-lhe o engenho e a subtileza para arquitectar uma história decente. Valha-lhes a boa vontade de José Manuel Fernandes, capaz de transformar um boato indigno d'O Crime em manchete do Público.

Não se acusa sem provas nem se faz pender sobre o acusado o ónus da prova. Deve repetir-se isto à exaustão, independentemente de simpatias políticas. Por honestidade, por decência e por utilitarismo. Um dia, pode ser connosco.

Quem escreve um conto acrescenta um ponto

A campanha de desinformação do Público continua em força. O que começou por uma "perplexidade" de um membro da Casa Civil da Presidência da República, que chega a admitir a hipótese de haver fugas de informação internas, embora isso nunca tenha sido valorizado na redacção de José Manuel Fernandes, e por um adjunto do governo sentado em mesas para as quais não foi convidado, passa, nesta quinta-feira, a "denúncia de escutas na Presidência e de assessores de Belém a serem vigiados pelo Governo ou PS". Com pequenas subtilezas se vai influenciando a percepção que os leitores têm de determinada situação. Depois torna-se mais fácil falar de asfixia democrática.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Embrulha

"Em declarações ao PÚBLICO, Pinto Monteiro disse entender que 'neste momento, não há lugar a qualquer tipo de averiguação, visto que não existe nenhum facto concreto'. E salienta que 'não comenta comentários'."

Abaixo das exigências

Surpreendentemente, há muita gente, que devia ter mais juízo, a levar a sério a composição de Verão que o Público resolveu publicar. Mas, por outro lado, também houve muita gente a pensar que Cavaco Silva estaria à altura do cargo. Nunca esteve e continua a não estar.

A situação é simples: ou a Presidência, de forma oficial, concretiza as insinuações e age em conformidade, ou se distancia do comportamento irresponsável de um dos seus assessores, tirando igualmente as ilações que não pode deixar de tirar. O silêncio, neste caso, mais não é que cumplicidade com a lama.

A Presidência a quem parece que poderá ter acontecido não sei quê (2)

Na era do progresso incessante das novas tecnologias, na era dos computadores e dos softwares, da electrónica e da miniaturização, a Presidência da República suspeita que o governo terá recorrido ao sofisticadíssimo e muito subtil método de pedir a um adjunto que se sentasse na mesa dos assessores de Cavaco sem ser convidado. São estes os fundamentos que suportam uma das mais graves suspeições (a mais grave?) alguma vez lançada sobre um executivo no pós 25 de Abril. Se não fosse trágico, seria cómico.

Mesmo?

A sério: são estas as pessoas que queremos ter à frente do país nos próximos anos?

Muito, muito, muito bom

O Watergate mais curto da história.

Ensaio sobre a cegueira

É preciso não esquecer que o Público é, hoje em dia, um jornal no qual retirar 200 mil idosos da pobreza dá direito a nota negativa para Vieira da Silva na última página da edição.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A Presidência a quem parece que poderá ter acontecido não sei quê

As declarações do anónimo membro da Casa Civil da Presidência da República são: "Como é que os dirigentes do PS sabem o que fazem ou não fazem os assessores do Presidente? Será que estão a ser observados, vigiados? Estamos sob escuta ou há alguém na Presidência a passar informações? Será que Belém está sob vigilância?"

Nas restantes duas páginas que o Público dedica à (não) notícia, nada - absolutamente nada - permite suportar estas gravíssimas insinuações. Qualquer político munido de um mínimo de bom senso ou e de um mínimo de entendimento sobre o que é o relacionamento entre instituições, e entre estas e os eleitores, não pode, em circunstância alguma, confundir as suas perplexidades com matérias passíveis de serem partilhadas com jornalistas. Mas, em Belém, esta foi a forma encontrada para atacar o governo e o PS em plena pré-campanha eleitoral. A mesma Presidência que pediu uma limitação à actividade legislativa, a propósito da discussão de temas que alguns gostam de apelidar de fracturantes, sanciona agora a lama como forma de fazer política.

Temos, então, uma instituição política com o peso da Presidência da República a recorrer à insinuação rasteira e à manipulação barata e um jornal, dito de referência, a prescindir da investigação, dos factos e do juízo crítico para se transformar em mera correia de transmissão dos interesses eleitoralistas de uma força partidária. Mas o problema, para estas almas caridosas, reside sempre nos outros.

Vergonha na cara

Se o PSD, pela voz de Aguiar Branco, desmente peremptoriamente a participação de quem quer que seja ligado à Presidência na elaboração do programa eleitoral do partido, então como é que alguém, ainda que de forma dissimulada, poderia escutar conversas nesse sentido?

Se o Público ainda fosse um jornal sério, a vergonha na cara nunca permitiria que uma capa como a do dia de hoje fosse publicada.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Os jovens

"Estou a apanhar o comboio para casa em Belém", disse, ao telefone, a rapariga que passeava na 24 de Julho.

Escolhas

A menos de 2 meses das eleições, com o país e o mundo ainda a viverem os efeitos da maior crise financeira e económica em muitas décadas, o PSD de Manuela Ferreira Leite, que não chegou ontem à liderança do partido, não consegue apresentar sequer as linhas gerais de um programa de governo. Os eleitores terão que perguntar a si próprios, dentro de poucas semanas, se são estas as pessoas que querem com a responsabilidade de responder a uma crise que, consensualmente, está longe de ter chegado ao fim.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Da desconfiança (2)

No momento em que a desconfiança generalizada passa por opinião crítica informada sabemos que o mal da democracia neste país é ainda mais profundo. Desta confusão entre duas linhas de pensamento tão distante resultam dois fenómenos nefastos. O primeiro é o de tender a afastar os que prezam o seu bom nome e a sua honra. Se da participação cívica na política o que sobressai é a desconfiança infundamentada, então quem quererá submeter-se de ânimo leve a tal estigma? O segundo inconveniente é que, quando o que se espera dos políticos é que sejam interesseiros e corruptos, estamos a convidar muito boa gente a agir de acordo com as expectativas que foram traçadas. Se as pessoas esperam que fulano seja ladrão, não é certamente roubando que ele desiludirá a comunidade. Com esta atitude, a única coisa que se consegue é limitar a renovação da classe política e diminuir os constrangimentos sociais para o incumprimento das leis.

Da desconfiança

Medina Carreira, em entrevista à SICN, define o poder como um "lugar para tratar da vida e dos negócios (...) para empregar os primos, os tios, para fazer negócios de auto-estradas e outras coisas no genero." Que há quem aproveite o exercício do poder para seu ganho pessoal não merece grande contestação. Se não houvesse evidências, bastariam as leis da estatística para não nos permitir afastar peremptoriamente essa possibilidade. Mas que se reduza o exercício do poder ao nepotismo e ao amiguismo, que se imponha a desconfiança generalizada sobre todos os agentes do sistema político, não pode deixar de ser considerado como outra coisa que não uma afirmação que deve mais à desilusão do que à argumentação racional. Este é o tipo de insensatez e preconceito que se pode esperar ouvir pelos cafés e praças do país. Mas das elites responsáveis espera-se outra coisa. Espera-se, por exemplo, que compreendam que a promoção da desconfiança generalizada no sistema e nos seus agentes apenas contribui para diminuir a qualidade da democracia que temos.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Coisas graves

Lido. De fio a pavio, de um fôlego só, que é como se devem ler blogues, e com o mesmo prazer de sempre.

Isto não é um regresso (2)

Dentro de dois meses podemos ter Ferreira Leite no governo, Santana Lopes na CML e, obviamente, Cavaco Silva em Belém. Quem achar que estaremos melhor assim que mantenha o estupor.

Isto não é um regresso

Pode não chegar ao fim do ano. Pode não chegar ao fim do mês. Pode não chegar a amanhã.