sábado, 27 de fevereiro de 2010

Um Presidente da República monárquico?

Talvez o único lugar para o qual um monárquico não deva candidatar-se seja o de Presidente da República. Pode fazê-lo, mas a sua consciência devia ditar-lhe que não o fizesse. Se Fernando Nobre simpatiza com o regime monárquico e, mesmo assim, decide avançar para a corrida a Belém, o mínimo que se lhe pede é que explique cabalmente o seu pensamento sobre os dois regimes e que se comprometa, desde já, com uma linha de acção tão clara quanto possível. As meias-tintas, neste caso, não são uma opção.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Portugueses vêem filmes de acção a mais

Segundo um estudo encomendado pela Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, a maioria dos entrevistados gostaria de ver a polícia usar a força com maior regularidade. As forças policiais são um instrumento de manutenção de ordem e segurança pública. Não são uma instância de aplicação de justiça. Para isso temos tribunais e códigos específicos. A diferença entre um filme de acção de Hollywood e o que é a actuação dentro dos limites da lei e da razoabilidade do uso da força devia ser evidente para a maior parte das pessoas e reside nos fundamentos do Estado de Direito. Mas talvez o mais espantoso desta atitude seja a confiança maniqueísta dos entrevistados. Uma boa razão para não enveredar por soluções de força e que limitam os direitos e garantias dos indivíduos é saber que quanto maior é o grau de arbitrariedade no uso da força, menor é a garantia que temos de não sermos nós as vítimas desse poder em tão má hora delegado.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Maus caminhos

O CDS quer sistemas de videovigilância e reforço policial em Torres Vedras. A proposta esbarra em critérios de eficácia e eficiência, mas isso não detém um partido que tem feito da paranóia securitária um tema permanente de campanha.

A ideia de que podemos ter sociedades sem crime, ou sem corrupção, ou sem vícios, foi e continua a ser uma das ideias mais perigosas em termos políticos. Não há, não pode haver, sociedades sem crimes. Podemos apenas ter sociedades totalitárias e sociedades sem liberdade de informação. E é só.

Parecendo que não

Obviamente, o casamento de pessoas do mesmo sexo não é um ataque nem prejudica de forma alguma a família. As famílias - todas - continuarão a viver as suas vidas independentemente de quem casa com quem. O “ataque à família” é apenas um slogan vazio e populista ao qual ninguém foi ainda capaz de conferir substância. Quando convidados a explicarem-se, os pretensos defensores da família caem constantemente na cartilha do "tratar de forma diferente o que é diferente", dos "apoios às famílias numerosas" e da "tradição". Sobre o que significa o "ataque à família" não foram nunca capazes de produzir um argumento, ainda que estéril. O que, parecendo que não, ajuda a perceber muita coisa.

Diz-me com quem andas

Os cartazes que ilustraram a manifestação contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo falam por si. Aquela não foi uma manifestação pelo referendo, foi uma manifestação contra a lei recentemente aprovada. Não havia ali ninguém que, no caso de vir a existir um referendo, defenda o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Esse, mais do que os eufemismos e subterfúgios de retórica, é o ponto que os une. Pela Avenida da Liberdade, triste ironia toponímica, desfilaram monárquicos, católicos, conservadores, reaccionários e fascistas. Ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo não funde todos estes grupos sociais, embora os tenha unido. Mais, ninguém pode impedir pessoas e grupos de se manifestarem livremente. Mas também ninguém impede ninguém de se ir embora se não gostar das companhias. Este sábado, pessoas como Maria José Nogueira Pinto e José Ribeiro e Castro decidiram caminhar lado a lado com neo-nazis. Enquanto não se demarcarem das alarvidades a que emprestaram a cara e o nome, manterão uma nódoa iniludível na sua figura pública.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Um mau começo é apenas um mau começo

Mal se soube da candidatura de Fernando Nobre para a PR, surgiram rumores que a davam como não mais que um instrumento de vingança da ala soarista do PS contra Manuel Alegre. Os apoios já comprometidos com Alegre, sobretudo na área do BE, para além de questionarem o perigo de haver duas candidaturas a disputar o mesmo espectro eleitoral, logo criticaram a ingenuidade ou os propósitos de Fernando Nobre, reduzindo-o a um testa-de-ferro.

A ser verdade que a candidatura de Fernando Nobre tem na sua origem a ala soarista (o que ainda não ficou demonstrado - rumores são rumores), ninguém sai bem nesta fotografia. Mário Soares e os soaristas ficam mal na vingançazinha cometida. Alegre fica mal por nem sequer ser capaz de unir o partido. E Fernando Nobre, a quem se deve reconhecer a experiência e a inteligência para saber perfeitamente ao que ia numa candidatura promovida pelos soaristas, fica mal por escolher lançar-se nesta aventura com estas condicionantes.

Quanto ao resto, dizer, numa eleição de carácter pessoal, que determinada pessoa não devia avançar é completamente absurdo. Ainda mais absurdo se torna se essa afirmação vier de apoiantes de Alegre, sabendo o que aconteceu há cinco anos. Estas são as regras do jogo e ninguém disse que eram fáceis. Em segundo lugar, nem sequer é líquido que a candidatura de Nobre arrume com as hipóteses da esquerda. Não é só ao campo eleitoral de Alegre que Fernando Nobre pode ir buscar votos. E basta que uma destas candidaturas desista e mobilize os seus apoiantes para a outra para que os problemas de Cavaco ganhem toda uma outra dimensão.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Downhill

Portugal está transformado num país de desconfiados. Por princípio, desconfia-se. E parecem ser ainda poucos os que percebem o salto qualitativo descendente, em termos civilizacionais, que esta forma de estar prenuncia.

Campo minado

A comunicação social é o principal mediador entre o indivíduo e a realidade social e política que o rodeia. O país enfrenta numerosos problemas e um dos maiores é o de, para se inteirar dos numerosos problemas que enfrenta, depender de uma corporação minada por incompetência em doses catastróficas.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O falso moralista

Um político a faltar à sua palavra não constitui propriamente uma novidade. Os problemas para Paulo Rangel, de um ponto de vista muito pragmático, não deveriam começar aí. A maior ameaça que Rangel enfrenta não é, então, a de estar disponível para a liderança do PSD, depois de ter "peremptoriamente" colocado de parte essa hipótese, mas a de ter ocupado uma boa parte da sua campanha para as europeias, no Verão do ano passado, a exigir a outros um compromisso que ele próprio quebrou ao fim de pouco mais de seis meses. O eleitorado suporta melhor os mentirosos do que os falsos moralistas e o PSD tem o dever de perceber isto. Se não o fizer antes, os eleitores certamente não terão pruridos em explicar-lho nas urnas.

Do regresso

Não se deve regressar aos locais onde se foi feliz, dizem. Enganam-se. Deve-se sempre regressar aos locais onde se foi feliz.

Bios Politikos

Agora também com posts!