sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

A vida secreta dos animais domésticos

Que a gata tem um gosto especial por trazer lagartixas para casa já não é novidade e acabou por ser uma rotina com a qual se convive pacificamente. Agora o talento especial do cão para desenterrar ratazanas mortas, isso é uma conversa totalmente diferente.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Reformas

Parece muito agradável facilitar a aposentação dos funcionários públicos, reduzindo os números da Administração Pública. Mas, se não me escapa nada, isto significa que o problema orçamental dos ministérios está a ser sacudido para as costas da Segurança Social. Ninguém é despedido, muito bem, mas ainda me parece melhor se não vierem, daqui a uns tempos, falar na sobrecarga com as pensões de reforma para pedir mais anos de trabalho, ou mais descontos, ou redução de benefícios.

Modesta contribuição para a educação das elites

No seguimento da série do João Pinto e Castro dedicada ao presidente da Comissão de Cultura e Media do parlamento britânico e do contributo do Lutz Bruckelmann, a minha singela participação, recorrendo à arte Michelangelo Caravaggio, uma das preferências da casa.


Caravaggio, O Amor Triunfante, 1602-03

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Equívocos

Parece que a palavra multiculturalismo parece querer transformar-se, para alguma direita, no que a palavra globalização é para alguma esquerda: uma fonte de equívocos.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

As estatísticas, sempre as estatísticas

Arrepia ligeiramente ouvir uma pessoa com as responsabilidades de Vitalino Canas a dizer que a média da taxa de desemprego no ano passado é enganadora. A média não é enganadora. É o que é: uma medida de tendência central com as virtudes e limitações que lhe são conhecidas. As estatísticas não são enganadoras. O que é enganador é o que se opta por dizer com elas.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Ideias fáceis

O problema não é que a Europa tenha colocado a palavra "inimigos" no esquecimento, como afirma Henrique Raposo. O problema é que no mundo ocidental, livre, moderno, democrático, há quem tenha esquecido os conceitos de dignidade e de sofrimento humano e quem tenha esquecido que este continente viu morrer, no século passado, mais de 60 milhões dos seus habitantes como consequência de guerras. O problema é que há quem goste muito de espingardas, sobretudo quando são sempre outros a conhecer-lhes as extremidades. A bravura é muito fácil atrás do monitor e do teclado. Só que deixa de ser bravura; apenas bravata.

O conceito de guerra pode abranger muitas definições e aforismos, desde o popular inferno da guerra à académica continuação da diplomacia por outros meios. O que a guerra nunca deixa de ser é uma situação de excepção, com regras de excepção. É por isso que o insistente recurso à expressão “guerra contra o terrorismo” é tudo menos ingénuo e natural. A guerra, por permitir esse estatuto de excepção, abre caminho a todos os atropelos, a todos os abusos e a todas as feridas. Verdun, Auschwitz, Hiroshima e Sarajevo, entre tantos outros exemplos, não são causas de guerra. São, antes, seus produtos e, por tudo o que representam, deviam originar uma longa pausa para reflexão antes de se entrar no caminho das ideias fáceis.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Da estética à ética

É bastante difícil comentar a nova polémica a envolver o primeiro-ministro. Ou melhor, a envolver José Sócrates, porque é muito discutível que actos com 20 anos tenham a pertinência para a actualidade que lhe querem emprestar. Se não fosse assim, Durão Barroso, Pacheco Pereira e tantos outros ainda andariam a pagar pelo que disseram e fizeram há trinta anos. E não andam.

Ao redor de José Sócrates cheira a sangue. Este vasculhar do seu passado longínquo, alheio à actividade política, é muito pouco comum. Mais do que noticiar e comentar, parece existir uma vontade de sangrar o primeiro-ministro, quase uma obsessão pela descoberta da nódoa no percurso. Isto, repare-se, em questões totalmente alheias às políticas do governo, porque essa é outra conversa. A repetição das investidas, com motivos dúbios e contornos pouco claros, não abona a favor dos seus autores, sobretudo depois do muito que se saturou o publico com episódios anteriores.

A dificuldade de comentar esta polémica reside precisamente na falta de confiança que existe no trabalho das televisões e dos jornais. Chegámos a um ponto em que, apesar da notícia, é sempre preciso começar as frases com um “se for verdade…”. Porque por vezes, demasiadas vezes, não é. Não só a fidelidade da informação passou a ser duvidosa, como as prioridades editoriais deixam muito a desejar. Ou querem convencer-nos que não há nada com maior interesse e importância para noticiar do que os projectos que Sócrates assinou há duas décadas?

Se é isto que têm para servir como jornalismo de investigação da imprensa de referência, é fraco. É menos que fraco. Comparativamente, não é melhor, sequer, que as aberrações de tijolo e cimento que Sócrates ajudou a pôr de pé.