quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Eclipse

As políticas de austeridade propostas pelos paladinos do liberalismo não trarão outra coisa que não um efeito recessivo na economia. Este facto é uma evidência tão forte que não era necessário ver a Irlanda entrar em espiral descendente para o perceber. Mas existem dois aspectos importantíssimos e menos falados que são os efeitos sociais e políticos do liberalismo económico e financeiro.

Quando se facilitam os despedimentos, quando os salários baixos não permitem um nível de vida satisfatório e impedem que os assalariados participem da criação de riqueza na economia, transformando a mobilidade social e económica numa miragem, não se pode esperar um compromisso forte das massas com os projectos políticos. Nestas situações, quando não se tem nada a ganhar e pouco se tem a perder, as fontes de ignição aproximam-se perigosamente do barril de pólvora. Os adeptos do liberalismo económico e financeiro não contam com nada disto. Ou contam, mas optam por resolver estes problemas construindo mais prisões e agravando as penas previstas na lei.

Este liberalismo, tomado por aquilo que nos querem vender, subordina as pessoas aos números, o social e o político ao económico, o económico ao financeiro e a realidade à doutrina. Não garante estabilidade, não garante crescimento e não garante redistribuição da riqueza. Encerra em si os fundamentos para eclipsar em poucos meses o que precisou de 100 anos e duas guerras mundiais para poder ser construído.

Isto pode não ser um regresso