quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ilusões

Só de desilude quem um dia acalentou esperanças. Só se surpreende com o teor das declarações de Cavaco quem um dia confiou no seu discernimento e na sua sageza política. Cavaco é um homem sem visão, sem mérito profissional nem político. Os anos de desperdício de fundos comunitários aplicados em betão, em vez de apoiar uma reestruturação do tecido económico português, estão aí para o provar à saciedade.

A intervenção de Cavaco não possui coerência interna nem externa. Os argumentos utilizados não são coerentes entre si e não são coerente com a realidade a que deviam reportar. Existem erros e omissões que só serão possíveis da parte de quem tem um entendimento muito limitado das questões que aborda ou da parte de quem quer travestir a realidade em outra coisa que lhe convenha. Em qualquer dos casos, a Presidência da República está muito mal entregue.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Resumo

O melhor resumo do comportamento de Cavaco Silva nas últimas semanas, incluindo a triste prestação desta noite, foi apresentado pela Maria João Pires: um presidente institucionalmente anão.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O que é que António Costa pretendia provar?

Simplesmente, isto. Ilustrado com fotografias e tudo, para ser mais fácil ao João Miranda perceber o que está em causa.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Responsabilidade

A comunicação social detém o enormíssimo poder de ser o principal, e muitas vezes único, ponto de mediação entre o cidadão e a realidade política. Com o seu trabalho, a comunicação social permite o controlo sobre os agentes políticos que não está ao alcance do comum cidadão. A responsabilidade social e moral que se impõe perante tal poder é, igualmente, enorme. A conduta do Público na forma como optou por noticiar alegadas suspeitas da PR, com o patrocínio e cobertura do seu director, escapa a tudo o que é de mais elementar na ética e deontologia da profissão do jornalismo. As debilidades da democracia também passam - e se passam - por aqui.

Um mau prenúncio

Das próximas legislativas dificilmente sairá um governo estável. No momento em que o país mais precisava que da Presidência da República viessem sinais sólidos que ajudem a ultrapassar os obstáculos que as clivagens partidárias vão colocar à governabilidade, Cavaco decidiu hipotecar a sua eventual força e credibilidade para apostar tudo no apoio desesperado e muito pouco discreto ao PSD de Ferreira Leite. As decisões fazem os políticos. Se Cavaco não tiver a dignidade de se demitir, e não é de crer que a tenha, a vida não será fácil para os lados de Belém no tempo que sobra a esta presidência.

Cavaco I, o cínico

Como é fácil de entender, e já tem sido bastante repetido por diferentes sensibilidades, a decisão de afastar Fernando Lima chega tarde. Demasiado tarde. O afastamento do assessor, não tendo acontecido nos dias que se seguiram às notícias do Público, mas só quando o DN desmascarou a concertação, apenas se reveste de um cinismo preocupante numa figura política que devia ter melhor noção das exigências do cargo que desempenha.

Leitura política

Lendo o que os blogues politicamente alinhados à direita têm escrito sobre a articulação entre Belém e o Público para criar um pseudo-caso, fica-se com a impressão que esta gente ou ensandeceu ou acha que somos todos parvos. A PR monta um suposto "caso" para, conscientemente, minar a imagem do governo e do partido que o apoia e um jornal dito de referência presta-se a veículo de manipulação política grosseira, ignorando tudo o que é de mais elementar bom senso na prática jornalística - e tudo isto em tempo de eleições -, mas a preocupação desta gente é com o papel desempenhado pelo DN. O DN fez o trabalho que lhe competia. Perante acusações feitas em público, conseguiu indícios fortíssimos, os quais, após ausência de desmentido, podem ser considerados provas do envolvimento da PR num plano para influenciar o resultado das eleições que se avizinham. Investigou, confirmou, publicou.

Temos um órgão de soberania a violar dolosamente os seus deveres constitucionais, apoiado pelo frete de um jornal que prescindiu há muito da integridade e do brio profissional, e, pelo meio, um grupo de fanáticos que finge não perceber a gravidade da situação.

A partir do momento em que não há desmentido sobre a veracidade do email publicado pelo DN, a primeira leitura política a fazer é que Cavaco deixou de ter condições para continuar em Belém. Obviamente, é esta leitura que a direita vai tentar evitar a todo o custo. Muita poeira vai ser lançada para o ar nesta última semana de campanha.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Não é por aí (2)

O post do João Miranda apoia-se em duas falácias. A primeira é que, tal como é formulada, a pergunta que o encerra leva a que se considere as opções apresentadas como mutuamente exclusivas. Em segundo lugar, enquanto a dívida pública é medida em percentagem do PIB, o desempenho a nível de infraestruturas é medido pela percepção que os respondentes têm da qualidade destas. Dificilmente podemos usar estes indicadores a não ser para criar cortinas de fumo.

Não é por aí

Há ideias, como este texto do João Miranda, que não devia ser preciso explicar muito melhor para se perceber as suas limitações. E não devia ser preciso explicar porque, mesmo sem ser economista, qualquer pessoa devia compreender a diferença entre valores relativos e valores absolutos.

Se Portugal, numa lista de competitividade global, ocupa o 23º lugar em vias ferroviárias e, por outro lado, o 117º em dívida pública, dificilmente daí se retira outra informação que não seja o facto de haver, respectivamente, 8 e 116 países melhor colocados que o nosso. Mas, com base exclusivamente nas posições ocupadas na lista, nada nos pode fazer avaliar o grau das diferenças que se verificam. Por exemplo, em termos de dívida pública, medida em percentagem do PIB, o 116º país da lista pode apresentar uma diferença em relação a Portugal de menos de metade ou de uns meros 0,2 pontos percentuais.

As estatísticas não se usam sem enquadramento. Os números, por si mesmos, valem pouco. Devem ser sempre contextualizados, comparados e interpretados. O resto é demagogia ou desinformação. Exemplificando, e para que fique mais claro qual o nível de demagogia ou de desinformação, o país que ocupa o primeiro lugar no ranking da competitividade em termos de dívida pública é Timor-Leste.

Se Portugal deve privilegiar a redução da sua dívida pública é uma discussão que, com toda a legitimidade, se pode e deve fazer. Mas não são os lugares relativos numa lista que nos permitem fazê-la com rigor e objectividade.

Um Movimento sem mérito

A campanha mais visível do Movimento Mérito e Sociedade tem consistido numa crítica violenta ao sistema político-partidário. O MMS assume uma vontade de capitalizar o descontentamento e, para tal, não hesita em recorrer a uma estratégia que passa sobretudo por denegrir os restantes actores políticos.

Não é privilegiando a visibilidade dos ataques em detrimento da das propostas que se eleva o nível do debate político em Portugal. O MMS pode alegar que o dinheiro de que dispõe é pouco e obriga a alguma ginástica criativa. Mas também ninguém pode ignorar que quando o assunto é a política, os princípios devem figurar no topo das prioridades dos intervenientes. Para um partido que incluiu a palavra mérito na sua denominação, ironicamente trilha caminhos que se afastam bastante do que seria de esperar.

Os partidos e seus representantes que o MMS tem atacado são precisamente aqueles que têm recebido a confiança de quem se dá ao trabalho de ir votar. O MMS acaba, com a sua estratégia, quer o tenha percebido ou não, por atacar tanto os eleitos como os eleitores. Não é seguro que este posicionamento traga vantagens eleitorais, mas, em caso afirmativo, elas não poderão vir de outro lado que não seja o dos descontentes, dos ressentidos e dos desconfiados. O Movimento Mérito e Sociedade, que, como se viu, prescinde facilmente do mérito, privilegia e promove, assim, uma parte muito curiosa da sociedade. De um partido com esta linha de acção não se pode esperar nada de muito positivo.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A Madeira como exemplo

Para quem tem feito do conceito de "asfixia democrática" uma bandeira de campanha, escolher a governação de Alberto João Jardim como exemplo do que o PSD tem para oferecer diz muito mais da postura política de Manuela Ferreira Leite do que as quarenta páginas de banalidades apresentadas como propostas eleitorais ou o matraquear exaurido sobre a "política de verdade".

Recordemos que a Madeira é um sítio onde se pode abater a tiro, impunemente, um balão de propaganda de um partido da oposição, ou onde se impede ilegalmente o acesso ao parlamento local de representantes eleitos. Sobre estas e outras situações exemplares, Manuela Ferreira Leite conserva um silêncio elucidativo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ponto de partida

Não devia ser preciso recordá-lo, mas, nesta altura, todos os esclarecimentos sobre o cancelamento do Jornal Nacional cabem à TVI, à Media Capital e à Prisa. Julgo que é do mais elementar bom senso, seriedade e interesse público que se comece por aí. Depois, e consoante o grau de pertinência das justificações apresentadas, ou na sua ausência, podemos permitir-nos variados exercícios de especulação. Estamos a pouco mais de 3 semanas das eleições. Há tempo de sobra para fazer tombar primeiros-ministros. Ou líderes da oposição.