segunda-feira, 18 de abril de 2011

Palavra mágica

Da próxima vez que um político do PSD ou do CDS venha falar de despesismo do Estado ou insinuar que é preciso baixar os salários dos funcionários públicos e as prestações sociais para equilibrar as contas públicas, o eleitor sensato e informado deve manter no seu pensamento uma palavrinha mágica: submarinos.

Lideranças

A extrema-direita finlandesa acaba de tornar-se o terceiro partido mais votado nas eleições legislativas realizadas este domingo. Os resultados apurados até ao momento colocam os extremistas a pouco mais de 1% do partido mais votado e com apenas menos 5 deputados num total de 200.

A Finlândia está longe de ser um caso isolado. Em Itália, as coligações de Berlusconi há muito que acolhem a extrema-direita. Na Áustria, o partido de Jörg Haider também já integrou um executivo. Em França, as intenções de voto atribuídas pelas sondagens a Marie Le Pen são assustadoras e em Inglaterra, nas últimas eleições, os nacionalistas cativaram atenção mediática como nunca antes tinha sido visto. A UE, incapaz de reagir convenientemente à crise económica e financeira, tem um monstro a crescer no seu seio.

É muito difícil acreditar que serão políticos como Barroso, Merkel e Sarkozy que conseguirão contornar esta ameaça. Nenhum tem a visão, a coragem e o carisma para rechaçar os fantasmas que se erguem. E, contudo, qualquer um deles mantém-se firme na rota para o abismo. A Europa atravessa tempos agitados e perigosos e o seu maior problema não é não ter quem a lidere, mas ter quem ache que a sabe liderar.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Algo muito errado

Começa a ser notório que algo de muito errado se passa com os argumentos de Passos Coelho para ter chumbado o PEC IV. O líder do PSD já apresentou várias razões para tal, todas diferentes e muitas contraditórias. Confirmando-se que afinal Passos Coelho e Sócrates reuniram para discutir a apresentação das linhas orientadoras do PEC IV à UE, cai por terra mais um dos motivos anteriormente invocados.

Ao contrário do que o líder do PSD e a sua direcção repetiram incessantemente nestas semanas, Passos Coelho tinha conhecimento do pacote de medidas proposto pelo governo. Existem aqui três problemas. O primeiro, obviamente, é a mentira que o PSD quis fazer passar como trunfo eleitoral. O segundo é a quantidade de vezes que o PSD de Passos Coelho repetiu a mentira num tão curto intervalo de tempo. O terceiro problema é que não se imagina como pretendia o PSD não ser apanhado neste ardil.

Os dois primeiros, apontam para o facto de, tal como Graeme Souness dizia de Vale e Azevedo, a direcção do PSD ser capaz de olhar os portugueses nos olhos e lhes mentir sucessivamente. O terceiro demonstra que nem sequer isso são capazes de fazer com competência. Quase um mês depois de ter tirado o tapete ao país, não surpreende que o PSD não tenha sido capaz de apresentar uma única ideia sobre o que vai fazer se chegar ao governo. Não é estratégia política, é uma limitação cognitiva.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Ajuda interna


Em caso algum deve o Benfica aceitar um valor abaixo de 90 mil milhões de euros por este jogador.

FMI, FEEF, whatever...

Os resultados da "ajuda" externa em todo o seu esplendor.

O espelho do neo-liberalismo

Nas primeiras páginas da obra Os Americanos, Daniel J. Boorstin descreve como a religião, o social e o político se intersectaram nas primeiras décadas de colonização da Nova Inglaterra e como o sermão dos ministros do puritanismo protestante se tornou o ponto central da comunidade. Um ministro encarregava-se de uma mesma congregação, em princípio, para toda a sua vida. As comunidades eram homogéneas e unidas. A dissensão era punida com a expulsão. Sem estradas e sem verdadeiras alternativas de vida comunal, a mobilidade geográfica não era algo a que o indivíduo comum aspirasse sem desânimo.

Neste cenário de notória ausência de diversidade, os ministros compreenderam a importância acrescida do sermão e desenvolveram um estilo próprio, intelectualmente trabalhado e distintamente americano. Fizeram-no não porque sentissem uma ameaça ao seu lugar na comunidade ou à influência exercida sobre esta, mas antes por uma questão de ética: o fazer bem feito como um mérito em si mesmo.

O actual discurso neo-liberal dominante substituiu a ética pelo utilitarismo. Cada um cuida dos seus interesses, num ambiente de concorrência implacável, e é suposto que a sociedade saia beneficiada com esta atitude. Não se trata, como o exemplo relatado por Boorstin demonstra, de uma caracterização empírica da natureza humana, mas apenas de uma ideologia que tem pretendido mascarar-se de ciência social. O facto de se trocar a ética pelo interesse e pela utilidade não diz muito sobre a natureza humana, se houver algo que assim possa ser chamado, mas diz muito sobre o que nos tem sido imposto como modelo de sociedade e sobre a mentalidade dos seus agentes. Infelizmente, nos próximos anos os portugueses vão sentir na pele, ainda mais, as consequências do dogma neo-liberal.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Revisão da matéria

A democracia moderna nasceu da aliança, no século XVIII, entre a burguesia e o povo. Detentora de enorme poder económico, mas sem acesso ao poder político, a burguesia pediu apoio na sua luta contra a aristocracia. Como recompensa do apoio recebido nas ruas, garantiu direitos políticos à populaça. Em quatro linhas, é esta a génese da democracia representativa que conhecemos.

No final da II Guerra Mundial, os líderes europeus compreenderam bem as origens da catástrofe. A sua resposta foi a criação de um contrato social que conferisse segurança e distribuição de riqueza pelas sociedades. A Europa que resultou desse contrato estabilizou, uniu-se e cresceu - e talvez tenha sido um lugar feliz. Durou até aos anos 80, quando o liberalismo de Margaret Thatcher rasgou o modelo e ganhou a guerra contra os sindicatos.

No início do século XX, quando uma boa parte dos europeus ainda trabalhava em condições que nada deviam aos relatos de Engels sobre as fábricas inglesas em 1845, muito boa gente acreditava que o mundo não conheceria mais guerras. Os custos políticos, sociais e económicos seriam incomportáveis. Em 1914 vieram as trincheiras, em 1929 a crise financeira e em 1933 um demagogo austríaco foi nomeado chanceler de uma Alemanha ainda humilhada por Versalhes.

O exemplo

Na Islândia houve quem recusasse legitimidade a um sistema financeiro obsceno, imoral e fora de controlo.

Via Der Terrorist

terça-feira, 5 de abril de 2011

Reforma fiscal

Há uns dias, o New York Times lançou uma reportagem na qual acusava a General Electric de, apesar de apresentar lucros na ordem dos biliões de dólares, não pagar um cêntimo de impostos. Uma investigação posterior veio esclarecer que a GE, na realidade, ainda não apresentou contas relativas a 2010, de forma a apurar um montante a pagar. Mas, mais do que isso, veio demonstrar como as excepções e os buracos na fiscalidade americana permitem às empresas poupar milhões em impostos.

O caso dá que pensar, por comparação com a realidade portuguesa. A fiscalidade portuguesa é prolixa, labiríntica e, por vezes, indecifrável. Uma reforma que procurasse introduzir justiça, racionalidade e intelegibilidade no sistema fiscal seria, porventura, um dos mais significativos passos para uma economia e para umas contas públicas mais saudáveis.

Não se trata de pagar mais impostos. Trata-se de pagar o que realmente é devido. Não se pede mais do que isso.

sábado, 2 de abril de 2011

Uma perigosa mascarada



A UMP, de Nicolas Sarkozy, pretende lançar um debate sobre o islamismo em França. A mascarada dá pelo nome de "A Laicidade, o Lugar das Religiões e em Particular do Islão" (Público, 1 de Abril de 2011, pág. 19). O título diz tudo - aglutinam-se as variantes do islamismo num conceito único e particulariza-se o islamismo no seio das outras religiões. Na realidade, a referência a outras religiões e à laicidade apenas consta para que o ultraje não seja maior. A iniciativa, num momento pouco favorável para o partido de Sarkozy, destina-se apenas a capitalizar eleitoralmente o ressentimento e o pânico.

Este exemplo de mesquinhez e preconceito, no meio de uma crise financeira, económica e social sem paralelo, ajuda a compreender bem o que é a Europa neste início de século: um espaço político liderado sem visão, sem estratégia e sem memória.

A imagem que ilustra o post é da exposição O Eterno Judeu, inaugurada a 8 de Novembro de 1937, em Munique, e, mais tarde, a 12 de Novembro de 1938, em Berlim, dois dias depois da Kristalnacht.