terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Uma de três

Politicamente, há três interpretações para a remodelação de Correia de Campos. Ou o ministro da Saúde não fez o trabalho previsto, ou se reconhece que as reformas levadas a cabo não são as melhores, ou o primeiro-ministro cedeu à pressão popular e mediática. Em nenhuma delas o governo de José Sócrates fica bem na fotografia.

Tortura

A ASAE fica aí a uns 50 metros do barbeiro onde me desloco regularmente para aparar a melena. Os únicos indícios de tortura que por lá costumo encontrar são o tempo que se passa à procura de lugar para estacionar e os preços praticados pelo parque de estacionamento subterrâneo, quando há mais pressa.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Sinais de perigo

Encontra-se no Dois Dedos de Conversa um artigo de Bernd Ulrich, traduzido pela Helena Araújo, que se revela imperdível (quem domine o Alemão encontra também ligação disponível para o original). O posicionamento dos extremismos políticos é cada vez mais notório e relaciona-se de perto com o ambiente de incerteza e de clivagem social que se vive um pouco por toda a Europa.

A democracia pode sobreviver a muitas crises, mas dificilmente ao facto de ser tida como um dado adquirido, não precisando de ser permanentemente defendida e aprofundada. A forma como tratamos os mais desprotegidos revela muito do que somos e, neste momento, não revela uma grande preocupação com as suas condições. O tratamento reservado aos imigrantes – legais e, sobretudo, ilegais – ou a incapacidade de encarar o sofrimento humano vivido pelos apátridas e pelos refugiados denotam bem o lugar que o Ocidente lhes reserva na sua lista de prioridades.

Se a isto somarmos o eterno conflito israelo-palestiniano, o separatismo Kosovar e o recrudescimento dos nacionalismos, na Europa como no Mundo, temos rastilho e pólvora suficiente para nos arrependermos amargamente de não ter dado a devida atenção aos sinais à nossa volta.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Actualizações

José Pimentel Teixeira continua o seu Ma-Schamba noutro poiso.

À esquerda

Criar um novo partido à esquerda do PS, algures no intervalo que deveria separar o PS do PCP e do BE, é entregar o partido à indefinição centrista, à sede de poder pelo poder e às facções mais à direita que por lá militam. Parece haver quem queira retirar como consequência lógica dos resultados eleitorais de Manuel Alegre e de Helena Roseta a criação de uma nova força partidária, a qual resolveria os diferendos vividos. Mas o problema não reside em Manuel Alegre, Helena Roseta ou nos militantes que se identificam com uma linha ideológica mais à esquerda. O problema reside precisamente no facto de o PS se ter transformado num partido com uma matriz muito próxima do centro-direita. A ala à esquerda do PS não precisa de outro partido; precisa que o PS volte a ser um partido de esquerda.

Faz falta ao sistema político-partidário uma força de esquerda com a implantação eleitoral do PS. A co-habitação de um partido como o PSD com esta versão do PS é redundante e empobrecedora. Além disso, compreensivelmente, o PSD faz muito melhor de PSD do que o PS. Esta aventura pelo centro-direita do PS de Sócrates só tem resultado bem porque os sociais-democratas optaram consecutivamente por soluções tão populistas como pouco credíveis nas figuras de Santana Lopes e de Luís Filipe Menezes.

Ao contrário do que muita gente pensa, a culpa da crise no PSD não é da responsabilidade de Sócrates, mas ainda dos efeitos dos governos e do PS de António Guterres. Deixem o PSD voltar a encontrar uma referência séria para líder, com um discurso ideologicamente coerente e sério, para ver o pandemónio em que se vai transformar o Largo do Rato nas mãos da elite dirigente que os anos Sócrates têm promovido.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Gostar de peixe

Acho que ainda não disse, este ano, que gosto muito do que escreve o Besugo. Pois bem, gosto muito do que escreve o Besugo.
O Besugo diz que não lhe pagam para escrever (e muito menos para escrever bem). Ainda bem, digo eu. Assim, o que escreve não lhe vem da carteira, mas sai-lhe da alma, ou do coração, ou do que ele lhe queira chamar.
O Besugo é do Sporting. Devia ser do Benfica. Quem escreve assim, depois de um dia de trabalho, devia ser do Benfica. Eu já fui ver jogos do Sporting e sei que tenho razão.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Publicidade grátis

A edição desta semana da revista The Economist menciona o nosso cantinho da costa ocidental da Europa. O texto tem por título “Millennium bug”. Depois de passar os olhos pelos curtos parágrafos do artigo, onde se lê portuguese banks podia ler-se o nome de qualquer país da América Latina e continuaria tudo a fazer sentido.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Resumo do dia

Se bem percebo, Luís Filipe Meneses está satisfeito porque José Sócrates mudou de opinião, mas não gosta que o primeiro-ministro mude de opinião. Já Paulo Portas, o ex- ministro Xerox, acha que tem autoridade moral e política para aconselhar a demissão a quem quer que seja. Armando Vara, por seu lado, quer mudar de emprego, mantendo o que ainda tem. Tudo normal. Tudo perfeitamente normal.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Referendar

Não se vai referendar o Tratado. Mas referenda-se, pelo menos de quatro em quatro anos, os tratantes.

Um debate necessário

Na segunda-feira, João Pinto e Castro notou com perplexidade as prioridades do Público nos destaques que confere aos artigos dos seus colunistas. O exemplo é efectivamente caricato e poderia servir de mote para introduzir o debate que o país e os blogues ainda não fizeram sobre os meios de comunicação social.

O tema da comunicação social, sobretudo quando abordado nos blogues, mas não só, acaba frequentemente por resvalar para um debate sobre as novas oportunidades e as novas ameaças ao jornalismo. Discute-se muito se os blogues são comunicação social, se roubam ou acrescentam público, se competem ou complementam os meios tradicionais, tal como se discute a relação dos órgãos de comunicação social com a Internet, a rapidez de divulgação das notícias, a interdependência entre canais de informação e as vantagens e desvantagens relativas de cada meio em comparação com os outros.

Comparar blogues com os meios de difusão de notícias – a imprensa, as televisões, as rádios – tem o seu interesse enquanto exercício intelectual, especialmente, sem estranheza, para quem escreve em blogues, mas ofusca uma discussão muito mais importante. Os blogues ainda não substituem os meios de comunicação social, nem em recursos, nem em audiência, nem em influência e os órgãos de comunicação social tradicionais ainda são o meio de informação por excelência para a maioria da população. Assim sendo, o que importa conhecer é o seu actual estado de funcionamento. Ou seja, interessa perceber o grau de confiança e profissionalismo que ela oferece, enquanto instrumento de mediação da informação, enquanto lente de leitura da actualidade política, económica e social.

Compreende-se que esse debate não interesse aos próprios meios que serão objecto de reflexão. Surge, então, o papel que os blogues têm a desempenhar.

Que qualidade de democracia podemos esperar se a comunicação social padecer de fragilidades operacionais, de falta de rigor, de interesses instalados? Não muita, certamente. O debate que ainda não foi feito é precisamente este e envolve compreender a qualidade de ensino de jornalismo nas faculdades, o peso do trabalho inexperiente e mal remunerado nas redacções, o fenómeno da concentração da comunicação social e a relação das receitas da publicidade com a independência editorial.

Deste modo, o equívoco gerado pela chamada de atenção do Público pode ter resultado de uma ética informativa pouco desenvolvida, de mera iliteracia ou de um trabalho mal feito por falta de tempo para o fazer melhor. O que é certo é que, sobretudo na imprensa, cada vez o leque de temas é menor, os artigos são mais pequenos e superficiais e a qualidade da escrita se torna sofrível. Encarar o problema com frontalidade, parecendo que não, era um favor que se fazia aos jornalistas, já para não falar do país.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Controlar o sistema

Os partidos políticos são condição necessária, se bem que não suficiente, de qualquer sistema político democrático. Estabelecer um limite mínimo de filiados como condição de não extinção de um partido político tem o duvidoso condão de, numa situação extrema, mas não tão estranha em tempos de divórcio entre política e eleitores, poder patrocinar a extinção de todos os partidos políticos do sistema. Este raciocínio revela bem a ausência de bom senso de tal limitação. Mas, como diria o outro, essa não é a questão. A questão é que a liberdade política, que passa pela liberdade de associação política, não pode estar manietada por números estabelecidos arbitrariamente.

Por alguma razão, alguém pensou que um partido político deve depender menos da identificação dos eleitores com as suas propostas do que da disponibilidade destes para pagarem quotas. A premissa, já de si, é absurda. Contudo, a objecção principal que se levanta a este sistema de policiamento da actividade partidária é a sua inerente falta de democraticidade, a forma como prejudica inquestionavelmente os partidos mais pequenos, vozes de correntes minoritárias, mas nem por isso menos merecedoras do seu espaço de intervenção.

No fundo, esta é uma solução de secretaria, artificial e autoritária, de controlo paulatino da evolução do sistema político-partidário, sonegando aos indivíduos a oportunidade de estabelecerem por eles mesmos, não só com as suas decisões eleitorais, mas também com a sua disponibilidade para a actividade partidária, o futuro de cada força envolvida no processo. A falta de cultura democrática manifesta-se de muitas formas e em muitos meios. Entrevê-la enraizada numa lei tão recente e posta em execução por órgãos de soberania não deixa de ser manifestamente preocupante.

Always look on the bright side of life

Se pensar que terminei o ano passado, já a menos de duas horas da meia-noite, a conter uma inundação na casa-de-banho que alastrava até meio do corredor, este ano as coisas só podem melhorar.