Vamos supor que se pretende comparar o desempenho desportivo dos indivíduos de dois grupos distintos numa prova de resistência. Apura-se no final que os indivíduos do grupo A apresentam um desempenho notoriamente pior que os do grupo B. Contudo, sabe-se que mais de metade do grupo A é constituído por septuagenários e que no grupo B estes apenas ascendem a um quarto do total. Deve este dado ser ignorado na comparação que se pretende realizar? Não, não deve. A solução passa por ajustar as estruturas etárias dos dois grupos para que os dados sejam comparáveis, sob pena de se estar a desvirtuar as conclusões.
Foi isto que os autores do estudo comparado de taxas de criminalidade fizeram. O estudo não esconde que a taxa de criminalidade entre portugueses e estrangeiros em Portugal é distinta. Mas ajustada a estrutura da sociedade portuguesa à estrutura dos estrangeiros as diferenças desaparecem. Em condições semelhantes as taxas de criminalidade são semelhantes. Em condições diferentes as taxas são diferentes.
Comparar realidades diferentes dá trabalho e requer metodologias complexas e discutíveis. E pode ser sempre alvo de ataques por pessoas que usam como argumentos em seu favor a utilização de jargão científico por parte dos autores de um estudo que se quer científico.
Vamos repetir devagarinho para ver se o JCD percebe: “Em condições equivalentes de masculinidade, juventude e condição perante o trabalho” não é, nem pouco mais ou menos, o mesmo que dizer “Os portugueses que fazem parte do grupo dos que cometem crimes, têm tendência equivalente para cometer crimes aos imigrantes que cometem crimes.” A primeira é uma metodologia de comparação, a segunda é apenas uma algaraviada que em momento algum traduz fielmente o que se afirma no estudo.
4 comentários:
Miguel, estou convencida que em certos casos a pedagogia quase não vale a pena.
Caro Miguel Silva.
Muito obrigado pelo esforço que fez em tentar esclarecer-me. Agora começo a ver a luz. Infelizmente, antes de ter visto a luz continuei a debitar alguns disparates, dos quais muito me arrependo.
http://blasfemias.net/2008/08/14/ainda-sobre-o-estudo/
Mas agora já não volto a fazê-lo. O que seria de nós sem a sociologia estatística para nos mostrar a verdade sobre o mundo?
Bem haja e espero que me perdoe.
Perdoar? Eu até agradeço. É Verão, está tudo de férias, o futebol nunca mais começa... É muito difícil encontrar sobre o que escrever, mas o Blasfémias nunca nos deixa ficar mal.
Shyz, isto não é pedagogia, é batota. Recorrer ao Blasfémias, aos editoriais do José Manuel Fernandes e às opiniões do João César das Neves para escrever posts é como pescar peixes num barril.
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