Na segunda-feira, João Pinto e Castro notou com perplexidade as prioridades do Público nos destaques que confere aos artigos dos seus colunistas. O exemplo é efectivamente caricato e poderia servir de mote para introduzir o debate que o país e os blogues ainda não fizeram sobre os meios de comunicação social.
O tema da comunicação social, sobretudo quando abordado nos blogues, mas não só, acaba frequentemente por resvalar para um debate sobre as novas oportunidades e as novas ameaças ao jornalismo. Discute-se muito se os blogues são comunicação social, se roubam ou acrescentam público, se competem ou complementam os meios tradicionais, tal como se discute a relação dos órgãos de comunicação social com a Internet, a rapidez de divulgação das notícias, a interdependência entre canais de informação e as vantagens e desvantagens relativas de cada meio em comparação com os outros.
Comparar blogues com os meios de difusão de notícias – a imprensa, as televisões, as rádios – tem o seu interesse enquanto exercício intelectual, especialmente, sem estranheza, para quem escreve em blogues, mas ofusca uma discussão muito mais importante. Os blogues ainda não substituem os meios de comunicação social, nem em recursos, nem em audiência, nem em influência e os órgãos de comunicação social tradicionais ainda são o meio de informação por excelência para a maioria da população. Assim sendo, o que importa conhecer é o seu actual estado de funcionamento. Ou seja, interessa perceber o grau de confiança e profissionalismo que ela oferece, enquanto instrumento de mediação da informação, enquanto lente de leitura da actualidade política, económica e social.
Compreende-se que esse debate não interesse aos próprios meios que serão objecto de reflexão. Surge, então, o papel que os blogues têm a desempenhar.
Que qualidade de democracia podemos esperar se a comunicação social padecer de fragilidades operacionais, de falta de rigor, de interesses instalados? Não muita, certamente. O debate que ainda não foi feito é precisamente este e envolve compreender a qualidade de ensino de jornalismo nas faculdades, o peso do trabalho inexperiente e mal remunerado nas redacções, o fenómeno da concentração da comunicação social e a relação das receitas da publicidade com a independência editorial.
Deste modo, o equívoco gerado pela chamada de atenção do Público pode ter resultado de uma ética informativa pouco desenvolvida, de mera iliteracia ou de um trabalho mal feito por falta de tempo para o fazer melhor. O que é certo é que, sobretudo na imprensa, cada vez o leque de temas é menor, os artigos são mais pequenos e superficiais e a qualidade da escrita se torna sofrível. Encarar o problema com frontalidade, parecendo que não, era um favor que se fazia aos jornalistas, já para não falar do país.
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