sábado, 2 de abril de 2011

Uma perigosa mascarada



A UMP, de Nicolas Sarkozy, pretende lançar um debate sobre o islamismo em França. A mascarada dá pelo nome de "A Laicidade, o Lugar das Religiões e em Particular do Islão" (Público, 1 de Abril de 2011, pág. 19). O título diz tudo - aglutinam-se as variantes do islamismo num conceito único e particulariza-se o islamismo no seio das outras religiões. Na realidade, a referência a outras religiões e à laicidade apenas consta para que o ultraje não seja maior. A iniciativa, num momento pouco favorável para o partido de Sarkozy, destina-se apenas a capitalizar eleitoralmente o ressentimento e o pânico.

Este exemplo de mesquinhez e preconceito, no meio de uma crise financeira, económica e social sem paralelo, ajuda a compreender bem o que é a Europa neste início de século: um espaço político liderado sem visão, sem estratégia e sem memória.

A imagem que ilustra o post é da exposição O Eterno Judeu, inaugurada a 8 de Novembro de 1937, em Munique, e, mais tarde, a 12 de Novembro de 1938, em Berlim, dois dias depois da Kristalnacht.

1 comentário:

Helena Araújo disse...

Que a Europa é "um espaço político liderado sem visão, sem estratégia e sem memória", parece-me que não há dúvidas.

Mas - sem saber mais do que o título desse debate - parece-me que isto não é sinal disso, mas algo que tem de ser feito com urgência e muita seriedade. E, justamente, em relação a todas as religiões e em particular ao Islão.
Entre os cristãos, e especialmente entre os católicos, assiste-se a um reforço dos movimentos mais conservadores, que querem recuperar área de influência dentro da Igreja e dentro da sociedade. Quanto ao Islão, sabemos que não distingue religião e poder político como entretanto a Europa já aprendeu a distinguir (mas por quanto tempo?). Este é o momento em que é fundamental debater qual é o espaço das religiões na sociedade, de que modo se podem articular com a Política, até que ponto se permitem "reconquistas" das religiões no território laico.
Por toda a Europa há exemplos da necessidade deste debate: as leis que protegem a dignidade dos gays, os crucifixos e os lenços de cabeça nas escolas, as aulas de educação sexual, as aulas de desporto que não são frequentadas por algumas raparigas muçulmanas, etc.

De momento há na Alemanha um pequeno conflito porque o Presidente da República afirmou que a Alemanha é terra de cristãos e judeus, mas também de muçulmanos, e um ministro disse pouco depois que a Alemanha é terra de muçulmanos, mas não de Islão. Pode ter formulado mal a questão, mas apontou algo que tem de ser debatido: o que é o Islão? Que entendimento e prática de Islão são compatíveis com os valores europeus?
E também isto: porque se permite que as Igrejas Cristãs tenham tanta influência na sociedade, mas se sente como agressão a influência islâmica?

Na França, pelos vistos, vão por aí: que entendimento e práticas religiosas (não apenas o Islão) são compatíveis com os valores laicos que hoje, mais que nunca, temos de defender?