Há ideias, como este texto do João Miranda, que não devia ser preciso explicar muito melhor para se perceber as suas limitações. E não devia ser preciso explicar porque, mesmo sem ser economista, qualquer pessoa devia compreender a diferença entre valores relativos e valores absolutos.
Se Portugal, numa lista de competitividade global, ocupa o 23º lugar em vias ferroviárias e, por outro lado, o 117º em dívida pública, dificilmente daí se retira outra informação que não seja o facto de haver, respectivamente, 8 e 116 países melhor colocados que o nosso. Mas, com base exclusivamente nas posições ocupadas na lista, nada nos pode fazer avaliar o grau das diferenças que se verificam. Por exemplo, em termos de dívida pública, medida em percentagem do PIB, o 116º país da lista pode apresentar uma diferença em relação a Portugal de menos de metade ou de uns meros 0,2 pontos percentuais.
As estatísticas não se usam sem enquadramento. Os números, por si mesmos, valem pouco. Devem ser sempre contextualizados, comparados e interpretados. O resto é demagogia ou desinformação. Exemplificando, e para que fique mais claro qual o nível de demagogia ou de desinformação, o país que ocupa o primeiro lugar no ranking da competitividade em termos de dívida pública é Timor-Leste.
Se Portugal deve privilegiar a redução da sua dívida pública é uma discussão que, com toda a legitimidade, se pode e deve fazer. Mas não são os lugares relativos numa lista que nos permitem fazê-la com rigor e objectividade.
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