Após o 11 de Setembro erigiu-se o paradigma da guerra contra o terrorismo. A escolha da expressão não foi inocente. A guerra é um estado de excepção. Por isso se disse que o mundo estava diferente depois do ataque ao WTC. Mas, nos seus fundamentos, o mundo manteve-se igual. Houve, evidentemente, uma alteração de escala, traduzida nas dimensões humanas, materiais e mediáticas do atentado. Mas as ameaças mantiveram-se iguais na sua natureza. O terrorismo, o fundamentalismo e a ameaça nuclear e biológica, por um lado, e o direito à integridade física e psicológica e à procura de justiça, por outro, não nasceram em 2001.
Os caminhos bons e os caminhos maus que trouxeram a humanidade até aos dias de hoje mantiveram-se iguais a si mesmos. Não se verificou uma alteração dos fundamentos da ética, da justiça e das relações humanas. Não se inverteram os pólos do certo e do errado,
O terrorismo continuou a ser terrorismo, a morte continuou a ser morte, a tortura continuou a ser tortura e a guerra continuou a ser a guerra.
O paradigma da guerra contra o terrorismo, ao remeter para o estado de excepção, permitiu um posicionamento ideológico que sancionou todo o género de excessos. Sob o seu manto surgiram guerras preventivas, abusos sobre os direitos humanos, abusos sobre o estado de direito e despesas absurdas para satisfazer as necessidades de destruição e reconstrução de todo este processo. O poder viu o seu espectro de acção ser consideravelmente alargado. E se o poder tende a corromper, a natureza dessa corrupção, como se viu, tanto é material como moral.
A guerra ao terrorismo não serviu sequer os seus intentos e muito menos serviu os propósitos daquilo que gostamos de considerar as grandes conquistas da civilização humana – a democracia, a liberdade e o respeito pelos direitos humanos. Neste dia, isto é tão verdadeiro como se sabia ser há oito anos atrás. Utilizar as críticas ao paradigma da guerra ao terrorismo como forma de menorizar a solidariedade com as vítimas desse atentado é apenas um subterfúgio cobarde para desviar as atenções do falhanço miserável em transformar esse terrível momento numa oportunidade para a civilização se elevar a um nível que se sentia ser perfeitamente possível.
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