terça-feira, 3 de junho de 2008

Uma outra Feira do Livro

As quesílias do mundo editorial ultrapassam-me. As lutas de poder e de protagonismo que giram em torno da Feira do Livro de Lisboa pouco me têm interessado e confesso que nem sequer me esforço por me inteirar das razões da contenda. Com os anos, ou, de forma menos eufemística, com a idade, vamos descobrindo que, paulatinamente, vão surgindo pequenas intolerâncias para com certas coisas, as quais acarinhamos e desenvolvemos até atingirem um nível de requinte muito pessoal. Para nós são um sinal evidente de que o amadurecimento dos gostos nos torna selectivos e exigentes. Para todos os restantes são a prova provada de que a idade se encarrega de nos tornar cada vez mais chatos e embirrantes.

O meu grau de crescente exigência já não concebe que se descure a internet como um canal privilegiado de comuicação. Menos ainda que um evento como a Feira do Livro não aproveite todas as potencialidades deste meio, como se não houvesse já exemplos suficientes de como o rentabilizar devidamente. Mas, por falha dos organizadores, ou por falha dos editores, ou por falha de todos, o que nos chega é o mesmo modelo de sempre, em que as estratégias de promoção e venda passam por ocultar a informação e o interesse do cliente vem sempre, na melhor das hipóteses, em segundo lugar.

Numa outra Feira do Livro, o Livro do Dia seria uma iniciativa para fidelizar clientes e promover o gosto pela leitura, colocando à venda os melhores livros, dos melhores autores, aos melhores preços, e nunca serviria para tentar desencalhar monos que atafulham armazéns esconsos desde o tempo em que os cabelos com brilhantina estavam na moda. Numa outra Feira do Livro, a lista de Livros do Dia de todos os editores e para todo o período da Feira seria divulgada no primeiro minuto do evento, para que os compradores pudessem definir prioridades e planear as suas visitas. Numa outra Feira do Livro, esta informação estaria disponível permanentemente no site, através do qual também seria possível fazer reservas e encomendas.

Os portugueses lêem pouco, os livros estão caros e não são uma prioridade nas despesas familiares. Como a necessidade é a mãe de todas as invenções, dir-se-ia que este seria o momento para apostar em novos modelos – que já nem são tão novos como isso. Mas há sempre quem torça o nariz e desconfie e prossiga, parafraseando o outro, de prejuízo em prejuízo até à falência final.

1 comentário:

Helena Araújo disse...

Assim de repente lembrei-me das terças feiras "fantásticas", ou talvez seja outro o adjectivo, na IKEA. A gente já sabe com um ano de antecedência o que é que vai estar em promoção naquele dia.
E para que ninguém se esqueça, ainda repetem a informação por e-mail.

Boa ideia fazer isso com os livros.