O Rui Branco revela perplexidade pela bateria de críticas com que o Movimento Esperança Portugal foi recebido e prefere oferecer o benefício da dúvida ao projecto de Rui Marques.
O centro do centro, politicamente falando, é algo que não me agrada. É um posicionamento legítimo, claro, mas ideologicamente muito difícil de sustentar. O centro do centro, como opção política, parece-me coerente com um pragmatismo político muito activo. Podemos esperar para ver, mas quer-me parecer que a melhor estratégia, nesse caso, passaria por assumir projectos muito definidos. Para já, assistimos apenas uma manifestação de intenções que está entre o vazio e a ambiguidade que serve tudo.
Em segundo lugar, as expressões de eleição deste novo movimento deixam muito a desejar. Têm ligeiros laivos de demagogia messiânica e de ingenuidade político-social. Posicionem-se onde quiserem e escolham o discurso que lhes apetecer, mas é inegável que pretendem ocupar um espaço que está preenchido. E, assim sendo, não estou a ver como podem reclamá-lo sem uma crítica muito forte ao que tem sido o centro e os seus actores políticos no passado recente.
Por estes lados, não se trata tanto de cuspir em todas as direcções nem de distribuir porrada pelos pequeninos. Opiniões, já dizia o outro, cada um tem a sua. O MEP propõe-se mudar o país pelo centro, privilegiando o que nos une e construindo pontes. Mas de substância e ideias concretas não apresenta nada. É tudo tão vaporoso que, para ser sincero, não sei se chega, sequer, para ser qualificado como demagogia.
5 comentários:
Dou de barato que o que se sabe do MEP merece as críticas que lhe fazes até certo ponto. Até ao ponto em que na prática assumes que causou uma 1ª impressão demasiado ambigua. Mas a partir daí, avaliar o dito cujo com base numa única declaração pública que revelou o dito movimento parece-me uma exercício apressado que, como disse, encontro reproduido literalmente em dezenas de blogues. Chegares a "Mas de substância e ideias concretas não apresenta nada. É tudo tão vaporoso que, para ser sincero, não sei se chega, sequer, para ser qualificado como demagogia." é estar a exigir demais de um movimento com menos de um dia de vida pública.
Quanto aos centros e aos extremos, eu sou um "centrista" e não tenho partido. Naturalmente vou ficar atento a este e outros projectos que entrem por esta área. Podemos falar desse fenómeno de haver tão "bons partidas" ao centro que não me satisfaçam.
Acho que há duas vertentes que podem ser discutidas. Uma é ideológica e nessa cada um fica com a sua. Querem estar ao centro, tudo bem. Não é bem a minha área, mas é a de muita gente. Ainda assim, considero que é uma boa forma de fazer asneira e perder eleições. É querer não desagradar a ninguém, o que é um projecto demsiado ambicioso.
A segunda vertente chamar-lhe-ia prática, no sentido do como são feitas as coisas, das escolhas estratégicas de comunicação. Existem muitos eleitores insatisfeitos com os partidos mais ao centro e o MEP pode capitalizar isso. Mas como é que o pretendem fazer. Quer dizer, decidem avançar para a criação de um partido, mas a primeira comunicação não tem substância nenhuma. É falhar as primeiras impressões e é isso que toda a gente lhes está a cobrar. é muita ingenuidade, ou amadorismo. E, repara, se é para conquistar o centro, continuo a defender que só o podem fazer criticando o status quo. Têm que avançar de forma decidida, com críticas e com propostas alternativas. Penso que é isto que falta. Podiam ter começado melhor e merecem o respeito de se lhes dizer a verdade. Isto é política, não é o teatrinho da escola. Aprendam com os erros e pode ser que se façam um partido decente.
Depois, é claro, podemos ainda discutir isto do ponto de vista de haver tão "bons partidos" ao centro. Mas acho que tenho três blogues onde opinei extensamente sobre isso.
Não tenho a mínima dúvida que se no dia da apresentação "fizessem e acontecessem" seriam imediatamente trucidados: mais um partido anti-sistema, mais um partido cheio de ideias, etc, etc.
Também conseguia antecipar que haveria óbvias reacções negativas, mas mantenho que o quase completo unanimismo é surpreendente. E surpreende-me porque com duas ou três frases que proferiram foram comparados por pessoas com traquejo nestas andnaça (politólogas e tal) aos partidos estabelecidos com as acusações mais ridículas (porque absolutamente despropositadas): não têm ideologia, não apresentam medidas concretas, limitam-se a generalidades.
Qual foi o proto-partido que no primeiro dia da sua pré-história foi além do manifesto? Em que é que esses manifestos se distinguem do deste MEP?
Eu devo estar a ver mesmo muito mal a coisa.
Será que isto tudo é um déjà vu?
Não tivemos já um Partido Renovador Democrático, o partido que se "inspirava na atitude do General Ramalho Eanes", e que quando chegou ao poder descobriu que era igual aos outros?
O PRD é a minha primeira memória política e este é o meu segundo comentário porque o primeiro colapsou a meio.
Isto de dizer que "melhor é possível" faz-me lembrar o "fazer coisas bonitas" dos treinadores de futebol. Geralmente era muito utilizado pelos que não ganhavam.
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