quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Da estética à ética

É bastante difícil comentar a nova polémica a envolver o primeiro-ministro. Ou melhor, a envolver José Sócrates, porque é muito discutível que actos com 20 anos tenham a pertinência para a actualidade que lhe querem emprestar. Se não fosse assim, Durão Barroso, Pacheco Pereira e tantos outros ainda andariam a pagar pelo que disseram e fizeram há trinta anos. E não andam.

Ao redor de José Sócrates cheira a sangue. Este vasculhar do seu passado longínquo, alheio à actividade política, é muito pouco comum. Mais do que noticiar e comentar, parece existir uma vontade de sangrar o primeiro-ministro, quase uma obsessão pela descoberta da nódoa no percurso. Isto, repare-se, em questões totalmente alheias às políticas do governo, porque essa é outra conversa. A repetição das investidas, com motivos dúbios e contornos pouco claros, não abona a favor dos seus autores, sobretudo depois do muito que se saturou o publico com episódios anteriores.

A dificuldade de comentar esta polémica reside precisamente na falta de confiança que existe no trabalho das televisões e dos jornais. Chegámos a um ponto em que, apesar da notícia, é sempre preciso começar as frases com um “se for verdade…”. Porque por vezes, demasiadas vezes, não é. Não só a fidelidade da informação passou a ser duvidosa, como as prioridades editoriais deixam muito a desejar. Ou querem convencer-nos que não há nada com maior interesse e importância para noticiar do que os projectos que Sócrates assinou há duas décadas?

Se é isto que têm para servir como jornalismo de investigação da imprensa de referência, é fraco. É menos que fraco. Comparativamente, não é melhor, sequer, que as aberrações de tijolo e cimento que Sócrates ajudou a pôr de pé.

2 comentários:

Helena Araújo disse...

Parafraseando Francisco Pereira de Moura:
Por onde vai a Democracia Portuguesa?

Visto de longe, parece assim: os políticos "são todos uns corruptos", ou ridículos, ou ambos; a Justiça não funciona; os jornalistas fabricam notícias à medida de interesses obscuros.
Tudo isto num contexto de impunidade e desalento.
Já chegamos à fase de superlativo do "este país", um país profundamente desacreditado de si próprio?
E para onde vamos?

nanda disse...

Excelente análise!
É no mínimo estranho este desenterrar permanente de "pecados de carácter" de Sócrates. A saga começou logo na campanha eleitoral,com a questão da virilidade... e continua ... sabe-se lá até onde.
Nunca antes se foi tão longe. Isto não é só política. Não haverá por aí ódios e vinganças pessoais?