O problema não é que a Europa tenha colocado a palavra "inimigos" no esquecimento, como afirma Henrique Raposo. O problema é que no mundo ocidental, livre, moderno, democrático, há quem tenha esquecido os conceitos de dignidade e de sofrimento humano e quem tenha esquecido que este continente viu morrer, no século passado, mais de 60 milhões dos seus habitantes como consequência de guerras. O problema é que há quem goste muito de espingardas, sobretudo quando são sempre outros a conhecer-lhes as extremidades. A bravura é muito fácil atrás do monitor e do teclado. Só que deixa de ser bravura; apenas bravata.
O conceito de guerra pode abranger muitas definições e aforismos, desde o popular inferno da guerra à académica continuação da diplomacia por outros meios. O que a guerra nunca deixa de ser é uma situação de excepção, com regras de excepção. É por isso que o insistente recurso à expressão “guerra contra o terrorismo” é tudo menos ingénuo e natural. A guerra, por permitir esse estatuto de excepção, abre caminho a todos os atropelos, a todos os abusos e a todas as feridas. Verdun, Auschwitz, Hiroshima e Sarajevo, entre tantos outros exemplos, não são causas de guerra. São, antes, seus produtos e, por tudo o que representam, deviam originar uma longa pausa para reflexão antes de se entrar no caminho das ideias fáceis.
4 comentários:
"Na guerra, não assassinamos pessoas. Na guerra, matamos o inimigo."
Matamos o inimigo, mas quem morre é o menino de sua mãe. Há aqui uma falha qualquer nos cálculos.
Será que aquele post estava preparado para o primeiro de abril e saiu agora por engano?
Caso tenha sido escrito a sério: a França e a Alemanha já não são "o inimigo" uma da outra. Deve ser uma das conquistas mais importantes do século XX.
E a guerra contra o terrorismo é o maior disparate de todos.
Se houvesse um terrorista no meu prédio (no centro de Berlim), o exército bombardearia toda a minha rua? E se se desconfiasse que havia terroristas a viver na rua do Henrique Raposo?
Há cenários da guerra contra o terrorismo onde isso é feito. Eu e o Henrique Raposo seríamos, nesse caso, meros danos colaterais.
A guerra contra o terrorismo está inquinada de racismo.
A amizade entre a França e a Alemanha são umas das grandes conquistas da segunda metade do século XX, muito especialmente, devido à UE. A UE funciona como um pólo de interesses mais económicos que outra coisa qualquer, mas já ninguém pensa seriamente num cenário de guerra entre os seus membros.
Quanto à guerra contra o terrorismo, trata-se da desculpasada para se meter o estado de direito democrático na gaveta.
Miguel,
a relação entre a França e a Alemanha, vista com os olhos dos alemães, é muito mais que um conjunto de interesses económicos. Eles têm realmente muito orgulho e muito cuidado nessa relação.
Nas escolas alemãs aprende-se francês, nas escolas franceses aprende-se alemão, organizam-se viagens escolares para conhecer o outro país, ...
Podes ler mais aqui: http://fr.wikipedia.org/wiki/Relations_franco-allemandes (embora o wikipedia alemão tenha muitos mais pormenores sobre a construção dessa amizade)
Parece que o conflito já vem do tempo dos netos de Carlos Magno, que dividiram o império carolíngio em três. O que tinha a parte do meio (Lotaríngia, Burgúndia e norte da Itália) morreu, e os dois irmãos não se entenderam sobre a herança. Do século IX até ao XX!
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