A RTP é uma empresa cujo quadro financeiro pode ser resumido da seguinte forma: é subsidiada pelo Estado, tem dívidas de centenas de milhões de euros e dá prejuízo anualmente. Apesar dos subsídios, o resultado do exercício anual é negativo e para isso muito contribuem as avultadas dívidas. Ninguém, no seu perfeito juízo, considera que uma empresa nestas condições seja um bom investimento. Contudo, as movimentações para ganhar vantagem numa futura privatização são óbvias.
As receitas dos operadores dos canais de televisão são escassas para garantir a sustentabilidade do negócio. Como é evidente, a privatização da RTP vai criar um terceiro operador a competir em força por receitas publicitárias, o que se traduz numa quebra de preços. A isto acresce que as despesas com publicidade têm a característica de não só acompanharem o ciclo económico como ultrapassarem em amplitude a variação do desempenho da economia. Ou seja, quando o PIB cai, as despesas com publicidade caem proporcionalmente ainda mais.
Perante esta realidade, duas linhas de acção parecem ganhar forma. A primeira é o saneamento das dívidas da RTP, que tanto pesam no seu resultado negativo. O pagamento antecipado de centenas de milhões de euros da dívida, anunciado esta semana pelo governo, cumpre o desígnio de entregar ao sector privado uma empresa com outra folga financeira. A segunda é subsidiar um serviço público de televisão prestado por operadores privados, que tem como função adicional garantir a sustentabilidade do negócio desses operadores. As movimentações dos grupos económicos interessados na privatização da RTP compreendem-se melhor à luz destas preciosas ajudas.
A privatização da RTP, a realizar-se, tem tudo para acabar sendo mais um dos negócios ruinosos em que o contribuinte deixa de subsidiar uma empresa pública para passar a subsidiar três empresas privadas. É o liberalismo versão PSD-PP no seu melhor.
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