domingo, 16 de dezembro de 2007

Não é um Big Brother, é um Grand Frère

Chama-se Acordo Olivennes e parte das entidades que representam os criadores de conteúdos: para combater a pirataria, os fornecedores de acesso à Internet devem vigiar o tráfego dos seus clientes a fim de detectar casos suspeitos. Segundo o Público, Paulo Santos, da Federação de Editores de Videogramas, “considera a ideia «brilhante» e desvaloriza as críticas dos que dizem que vigiar o uso da Internet é um atentado às liberdades individuais”. Porém, basicamente, trata-se de uma medida que é parecida com pedir aos fabricantes de cassetes dos anos 80 que se comprometessem a colocar câmaras de vídeo aos ombros dos seus compradores para assegurarem que nenhum deles utilizava os seus produtos para piratear conteúdos.
Já conhecíamos a deriva securitária como ameaça à liberdade e à privacidade de cada um. Temos agora os interesses comerciais dos criadores de conteúdos e dos revendedores como uma nova desculpa para controlar o que fazemos.
Ninguém contesta o direito dos autores receberem pelas suas criações, nem ninguém contesta que a revenda é uma actividade económica perfeitamente legítima. Mas seria interessante que alguém se desse ao trabalho de perceber por que é que a pirataria de conteúdos tem a dimensão que tem. Por que é que tantas pessoas preferem o download ao original. Porque talvez seja uma questão que, não sendo indiferente ao problema dos preços, se prenda mais com a questão do valor. Sobretudo, seria muito positivo que a indústria de conteúdos percebesse que atacar a privacidade do indivíduo para proteger os seus interesses comerciais é um caminho inaceitável e que os governos não se dispusessem a patrocinar estes exageros.

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