terça-feira, 1 de junho de 2010

Legitimar o lixo

Ainda há quem tenha paciêcia para desmontar os textos de João César das Neves. Ainda há quem tenha paciência para ler o DN. Há gente para tudo. Mas desmontar os textos de JCN, actividade à qual me dediquei vezes mais que suficientes, incorpora um equívoco. JCN não opera no mercado da produção intelectual de textos para o DN. O seu negócio é o do entretenimento puro e simples. Mais não faz, e disso terá toda a consciência, que ninguém duvide, do que ocupar o lugar do número de circo, do maluquinho da aldeia, do bobo da corte. Desmontar os textos de JCN representa, sobretudo, elevá-los a uma categoria da qual a sua substância argumentativa não os torna merecedores e coloca-os num patamar onde obviamente não pertencem.

Os temas de JCN não mudam e o efeito sobre o leitor apenas surge pelo choque. Como a repetição esbate a novidade e instaura a rotina e o desinteresse, torna-se necessário, para continuar a prender leitores, aumentar a parada. O problema é que neste registo a parada só aumenta com uma radicalização permanente das ideias e do discurso. E é esta a principal razão, se não a única, pela qual JCN escreve textos cada vez mais desligados da realidade e do bom senso.

É perfeitamente irrelevante tentar perceber o pseudo-conceito "totalitarismo do orgasmo", cunhado esta segunda-feira. E não vale sequer o esforço de tentar explicar as mil e uma razões que fazem dos textos de JCN um poço de falácias. Existe talvez a responsabilidade de alertar para os perigos de se tomar uma coisa escrita pelo que ela não é, mas isso faz parte do trabalho de educação para a literacia e não precisa certamente dos textos de JCN como ilustração ou case study. Arranjam-se melhores desafios com facilidade.

De facto, o problema dos textos de JCN não reside tanto nas falácias e mentiras que encerram. O maior problema com os textos de JCN é que um jornal que se diz de referência não pode dar-se ao luxo de publicar o lixo do maluquinho da aldeia ou do bobo da corte. Não se empresta legitimidade ao lixo a troco de mais uns exemplares vendidos. Aliás, é muito duvidoso que JCN traga leitores ao DN. A maior parte das pessoas que se dedicam a ler os seus textos fazem-no por curiosidade mórbida e não pelo prazer da leitura ou pelo estímulo intelectual. Se o DN substituir JCN e entregar o seu espaço a alguém que, independentemente de se posicionar à esquerda ou à direita e de ser católico ou ateu, respeite o princípio elementar da honestidade intelectual, todos saem a ganhar.

3 comentários:

Helena Araújo disse...

Eu não o leio - só vou espreitar quando tu o recomendas. ;-)
Há muito que não lhe via uma crónica tão descarrilada. Nem é a questão do "império dos sentidos", é aquele wishful thinking do triunfo da Família e da derrota da Democracia, a confusão total entre o Parlamento e a Igreja Católica, a recusa de aquisições civilizacionais como a protecção dos animais. E nem me dou ao trabalho de entrar pela questão dos "desvios sexuais".

Mas: ele está para a direita como outros estão para a esquerda. No meio está um espelho. E, mais importante ainda: há muitas pessoas que o lêem com gosto e o admiram justamente pela sua coragem de pôr os nomes aos bois. Este homem verbaliza o que muitos pensam.
E, para piorar: entre os imigrantes da Europa há grupos de dimensão (cada vez mais) importante que estariam capazes de assinar por baixo.

Não se pode mandar calar. Nem uns, nem outros.
O que eu gostava era que aprendessemos a falar uns com os outros, em vez de nos atirarmos mutuamente pedradas verbais.

Shyznogud disse...

Miguel, o desta semana era demasiado irresistível.

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

hi, you have ...nice orgasm blog.. u can't view mine..it's dreadful
o dito gadjo lê-se não compro o DN nem o Sun mas o primeiro é melhor,
crónicas atraem alguns leitores
e os vossos blogs são mais baratos
bebemos as palavras and
When we drink, we get drunk of words
When we get drunk, we fall asleep.. When we fall asleep, we commit no sin...
When we commit no sin, we go to hell
So, let's all get drunk with words, and go to hell
tenho dito e agora vou dormir
amanhã talvez vá...