quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Democracia avançada e madura
Multiplicam-se os avisos dos militares em relação à insatisfação que se vive no meio, dos quais o mais sonante talvez seja o do general Loureiro dos Santos, notando-se o cuidado, nada inocente, que tem sido colocado nas palavras escolhidas. A insatisfação dos militares pode ser perfeitamente justificada ou não, não sendo esse o aspecto que me interessa reter. Aquilo que me capta a atenção é um certo tom de ameaça velada, que parece contradizer a confiança que, por exemplo, Loureiro dos Santos deposita no nosso sistema político ao apelidá-lo de democracia avançada e madura. Não se deve acalentar pretensões sobre esta matéria: a democracia portuguesa tem 34 verdes anos de vida. A necessidade que os militares sentiram de abrir hostilidades no seu processo revindicativo, e a forma escolhida para o fazerem, revela bem o quão débeis são o avanço e a maturidade da nossa democracia. Das forças armadas, como das forças policiais, pelo papel social que desempenham, espera-se uma reserva e uma discrição superiores à média. A ambiguidade dos sinais contidos nestes alertas é, por si só, um acontecimento com efeitos negativos para a democracia. Se as forças armadas se querem assumir, como não podia deixar de ser, como um pilar de estabilidade social e democrática, convinha que agissem respeitando esses princípios. Se é preciso contestar as políticas governamentais, que isso seja feito com franqueza, com exposição dos argumentos relevantes, com recurso a porta-vozes oficiais ou oficiosos, mas nunca com um tom de ambiguidade onde se possam ler pequenas ameaças ou pequenas chantagens, as quais apenas servem para alimentar o ainda muito fraco sentido democrático da nossa sociedade.
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